Clima desfavorável faz analistas reduzirem previsões da safra brasileira de soja

Seca foi a vilã para a produção na maioria das regiões; já em Mato Grosso, foi o excesso de chuva que prejudicou as lavourasA safra brasileira de soja tinha tudo para ser a maior da história, mas o clima mudou esse capítulo. Segundo analistas, ainda é cedo para quantificar as perdas, mas muitos já começam a reduzir suas previsões.

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A seca foi a grande vilã para a produção de soja na maioria das regiões do país. O produtor Alan Delfino, de Sorocaba, interior de São Paulo, estava otimista e chegou a comercializar 70% da sua produção. O que ele não contava era com o calor intenso e a falta de chuva no mês janeiro, que fez perder mais de 40% da safra.

– Não vou produzir o esperado, nem o mínimo. Não consigo entregar nem o mínimo. Agora é tentar negociar com a empresa que fez o contrato de compra. Este ano nenhum produtor vai ganhar dinheiro com soja – afirma Delfino.

Em Mato Grosso, foi o excesso de chuva que fez os produtores perderem o sono. No norte do Estado, por exemplo, os volumes variaram de 300 a 400 milímetros, atrasando a colheita e desvalorizando a soja em até 12% por conta do excesso de umidade.

– Essa safra é uma safra de grandes emoções. No plantio, primeiro fizemos o controle da helicoverpa. Então a soja foi se desenvolvendo bem, pois fizemos muitas aplicações contra a helicoverpa, o que causou custos a mais. Depois começou a aparecer bastante doença, mofo branco e teve problemas de lesma. No final, era preciso tirar a soja da lavoura o mais rápido possível. Só que o mais rápido possível não está acontecendo. Estamos vendo o fruto de um ano de trabalho quase que se perdendo – relata o produtor de Campo Verde (MT) Fernando Ferri.

Segundo o analista Liones Severo, as perdas ainda não podem ser quantificadas. Mas ele afirma que elas vão ser significativas.

– O Brasil iniciou este ano com uma grande expectativa de uma safra recorde, mas infelizmente as condições climáticas não são favoráveis e temos perdas significativas nas lavouras brasileiras. Em Mato Grosso, a soja está pronta para a colheita, mas, com o excesso de chuva, está praticamente apodrecendo na lavoura. Outras regiões do país enfrentam grandes secas e isso tem causado grandes perdas também, como em Goiás, Minas Gerais, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul. Quer dizer, temos uma situação completamente diferenciada do que se previa – declara Severo.

Segundo a última análise da consultoria Safras & Mercado, a produção de soja no Brasil deve crescer 5% com relação à safra passada, passando de pouco mais de 82 milhões de toneladas na safra 2012/2013 para mais de 86 milhões na safra 2013/2014. Já a consultoria AgRural prevê uma safra de mais de 87 milhões de toneladas.

De acordo com a Safras & Mercado, a região Sul deve apresentar as maiores perdas. A redução pode chegar a 4%, com uma produção de 28.911 milhões de toneladas. A AgRural calcula uma produção superior a 29.820 milhões nesta safra. O destaque negativo é o Estado do Paraná, que deve ter quebra de 8%, segundo a Safras & Mercado. 

No Centro-Oeste, conforme a Safras & Mercado, a produção deve crescer 8%. De mais de 38.486 milhões de toneladas na safra 2012/2013 para 41.558 milhões na safra 2013/2014. Para a AgRural, a previsão é quase igual. Apesar das chuvas que atingem o Estado de Mato Grosso, a previsão da Safras & Mercado, é de um aumento de 13% em comparação com a safra passada. A  AgRural também acredita em um aumento, com a produção passando de 26 milhões de toneladas. 

No Sudeste, as estimativas das duas consultorias foram reduzidas e trazem uma safra de pouco mais de 5 milhões de toneladas.

Para o Norte e Nordeste, as previsões são boas. As duas consultorias trazem estimativas de uma safra de mais de 10 milhões de toneladas. O destaque é para o crescimento de 70% na produção do Piauí.

– Os produtores podem ter uma boa receita, mas somente aqueles que irão colher a soja, porque muitos deles perderam as lavouras. O mercado vai se ressentir, principalmente o produtor por causa do clima, que são inerentes à atividade agrícola. Temos controlado o preço muito bem e ele tem avançado bastante no mercado internacional e interno. Temos ainda uma vantagem de ter uma desvalorização cambial que acrescenta em renda para o produtor no campo. Mas, de qualquer maneira, é um impacto bastante forte com relação à receita da safra agrícola brasileira – ressalta Severo.

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