Não é das mais bonitas a imagem que se tem nos últimos dias em alguns canaviais de São Paulo. Em um deles, do que sobrou para ser colhido, muito está no chão. A cana foi derrubada por um vendaval, três meses atrás. O estrago vai fazer o produtor colher antes do tempo.
Causado pelo clima também, o florescimento nos canaviais, que há oito anos não acontecia nas lavouras de São Paulo, é uma bonita imagem, mas não agrada o produtor.
? A flor, além de tirar a produção, ela tira a sacarose. Para emitir a flor, a planta necessita de sacarose da cana. Então realmente a flor, apesar de ser linda, dar um excelente enfeite, faz um bom rombo no seu bolso ? lamentou Christina Pacheco, produtora rural.
O clima atrapalhou mesmo o plano dos produtores de cana desta São Paulo este ano. No inicio da safra choveu demais. Agora, em julho e agosto, o tempo ficou muito seco. Neste tempo todo teve também geada, além de ventania que derrubou os canaviais. Resultado, este ano a safra vai ser menor e vai terminar mais cedo. Na propriedade de 70 hectares de Christina Pacheco, havia muita cana para ser colhida nesta mesma época do ano passado.
Christina Pacheco é vice-presidente da Orplana, a entidade que representa os produtores da região Centro Sul do Brasil. Ela diz que nesta região, que inclui 22 municípios produtores, metade da cana desta safra já foi colhida. Em outros anos a colheita iria até o fim de novembro, agora, vai terminar um mês antes. Isso tem reflexos no mercado.
? Em termos de produção, nós temos de 10% a 12% menor produtividade. Em termos de ATR, nós temos no momento de 10, 12 menos do que a gente teve no ano passado.
ATR, a quantidade de açúcar na cana, ajuda a determinar o preço. No ano passado o valor da ATR estava menor que agora. Em julho de 2010, era de pouco mais de R$ 0,34 o quilo. No último mês, quase R$ 0,50. Valorizou porque a produtividade caiu. No mês passado, Cristina recebeu R$ 64 por tonelada de cana.
? Se nós tivéssemos uma alta produção, provavelmente os preços seriam muito melhores ? disse a produtora.
Em pouco mais de um mês, Christina vai terminar a colheita desta safra. Este ano ela calcula que vai colher 20 mil toneladas, duas mil a menos que no ano passado.
Outro fator que agravou o setor foi o envelhecimento dos canaviais. Cana mais velha produz menos. No Estado de São Paulo, apenas 15% dos canaviais são renovados a cada ano.
A situação toda reflete também na indústria, e preocupa porque a entressafra vai ser maior agora.
? O setor está se preparando para garantir o abastecimento normalizado até a nova safra, que deve se iniciar no período de março do ano que vem ? observou Eduardo Leão, diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica).
No caso do etanol, para controle de demanda, como já fez antes, o mercado vai ter que importar. Segundo analistas, não há outra solução.
? Esta importação é que está fazendo com que o Brasil não deixe de ser exportador, mas complemente a oferta interna, ajude a manter os preços nos níveis adequados em todas as regiões do país ? falou Plínio Nastari, consultor de mercado.