Faz três meses que não chove nas lavouras do produtor Antonio Crestana, em Pirassununga, há 210 quilômetros de São Paulo. Ele planta cana e eucalipto. A colheita da cana já foi feita e, na maior parte da área, os pés estão com pouco mais de trinta dias.
A falta de chuva por tanto tempo é um problema pra qualquer cultura, mas nesta região de São Paulo tem sido mais que isto: um perigo. Esta é uma região de muita plantação de cana, com muita palha seca, que pode pegar fogo fácil, fácil. Pra evitar isso, os produtores separam as plantações em quadras. O risco do fogo aumenta a tensão do produtor e o custo também.
? Se você não quiser fazer o aceiro (um recurso pra impedir que o fogo se alastre) mecanicamente ou se você não puder, você tem que fazer manualmente ? afirma Crestana.
O prejuízo não é só para o agricultor, diz o diretor da divisão de Parques e Reservas do Instituto Florestal de SP, o engenheiro agrônomo José Luiz de Carvalho. Para o meio ambiente também. No período de julho a setembro, com a seca, a equipe de Carvalho fica em alerta máximo para evitar que o fogo atinja áreas de parques, reservas e estações ecológicas. O trabalho é feito em conjunto com as prefeituras, corpo de bombeiros e os agricultores. Eles são orientados a evitar qualquer tipo de queimada nas propriedades e a construir barreiras, como os aceiros.
? As vezes, aquele foguinho pequeno, que dá pra apagar com o tapete do carro, pode causar um incêndio que vai levar dias pra apagar ? diz Carvalho.
Levantamento feito pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostra o quanto a situação se complicou neste mês de agosto. Do dia 1º até a última terça, dia 24, foram registrados no Brasil 18.882 focos de queimadas ? número três vezes maior que o registrado no ano passado nesta mesma época. No Estado de São Paulo, onde o aumento foi maior, o número subiu de 79 focos para 370.