A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), as federações de agricultura dos estados, as entidades do Conselho do Agro e a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) apresentaram ao governo um plano com ações emergenciais e estruturantes para alavancar o setor agropecuário e minimizar os efeitos da pandemia do coronavírus na economia.
Além do presidente da CNA, João Martins, participaram do encontro a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues, o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Alceu Moreira, o presidente do Instituto Pensar Agro, Alexandre Schenkel, e presidentes das Federações estaduais e das entidades do Conselho do Agro.
Na agenda de ações emergenciais está a necessidade de prorrogações de financiamentos e crédito novo aos produtores rurais, visto que as medidas já anunciadas pelo governo federal precisam de ajustes para que se efetivem, de fato, em favor do setor.
Como ações estruturantes destacam-se a redução da taxa de juros do crédito rural via redução do “spread bancário”, medidas para reduzir a burocracia e o custo de observância do crédito rural, o combate à venda casada e o aumento do funding de financiamento para a agropecuária.
Também nesta semana, foram entregues ao governo as propostas da CNA para o Plano Agrícola e Pecuário (PAP) 2020/2021. O documento elenca 10 propostas prioritárias para a política agrícola para a próxima safra. Se implementadas, contribuirão para facilitar o acesso ao crédito e melhorar o ambiente de negócios para o produtor rural.
Ainda, em concordância com uma solicitação da CNA, o Conselho Monetário Nacional (CMN) publicou a Resolução 4816/2020, autorizando que as renegociações de operações de crédito de custeio para produtores enquadrados no Pronaf e de operações de investimento contratadas com recurso do BNDES, previstas na Resolução nº 4.802/2020, sejam realizadas utilizando a fonte original de recursos, com equalização da taxa de juros, permitindo que a mesma taxa de juros seja garantida ao produtor nas prorrogações.
Setor sucroenergético
O setor está sendo um dos mais prejudicados pela atual crise e as medidas de apoio solicitadas ao governo ainda não saíram. O Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) e o Ministério da Economia têm avaliado a disponibilização de recursos para uma linha de estocagem de etanol, uma das principais demandas do setor.
Enquanto isso, a iniciativa privada tem apostado em campanhas para estimular o consumo de etanol no país em detrimento de outros combustíveis.
Flores e plantas ornamentais
Após esforço conjunto entre entidades, o feriado do Dia das Mães garantiu um fôlego ao setor. Apesar das reduções de 55% do faturamento e 70% do volume vendido em comparação ao mesmo período do ano passado, as vendas foram superiores às primeiras semanas do isolamento social.
A CNA afirma que as orquídeas e rosas vermelhas apresentaram os melhores resultados com venda de praticamente 100% do que foi ofertado por serem as preferidas das mães. As vendas online, delivery e drive thru de flores e plantas aumentaram significativamente e surgiram como alternativa para o atual momento.
Contudo, a reabertura das floriculturas não ocorreu em todo o Brasil. Na região Nordeste, muitos empreendimentos ficaram fechados devido ao aumento significativo dos casos de infectados por Covid-19. Sem perspectivas de retomada dos negócios, muitos produtores relataram que devem sair da atividade.
Hortaliças
O projeto Feira Segura, do Sistema CNA/Senar, lançado nos modelos presencial e drive thru, tem garantido o funcionamento de um importante canal de comercialização de hortaliças e frutas e com baixo risco de contaminação para feirantes e consumidores.
A iniciativa tem contribuído para o retorno das feiras livres em alguns estados além de Goiás, onde foi lançada como projeto piloto. Tocantins e Bahia aderiram ao projeto e cada um possui duas feiras seguras em funcionamento e com previsão de abertura de outras ainda em maio. Minas Gerais e Mato Grosso do Sul devem realizar as primeiras Feiras Seguras nesta semana.
Frutas
As exportações de frutas frescas registraram no primeiro quadrimestre de 2020 redução de 15% da receita cambial com os embarques em relação ao mesmo período de 2019. Em abril, houve de 20% frente a março e de 30% frente ao mesmo período do ano passado. Enquanto isso, produtores de banana têm buscado ampliar as exportações, principalmente para o Mercosul, como forma de ampliar a demanda.
No caso da citricultura industrial, a preocupação é com a mão de obra. Apesar de a safra 2020/2021 ser de bienalidade negativa, com redução de produção estimada de 25,6%, produtores já relatam preocupação com a baixa disponibilidade e a elevação do custo de mão de obra para o início da colheita, em junho.
Commodities agrícolas
A recente estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra de grãos é de 250,9 milhões de toneladas, 3,7% superior à safra 2018/2019. A safra de soja, na temporada 2019/2020, foi estimada em 120,3 milhões de toneladas, recorde histórico, com acréscimo de 4,6% em relação ao ciclo passado. Para o milho, a companhia estima produção de 102,3 milhões de toneladas. Mesmo com perspectiva de aumento de oferta, a demanda, impulsionada pelas exportações, tem sustentado os preços dos grãos internamente.
Em apoio ao bom andamento da safra de café, a Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais e o Senar-MG estão realizando seminários regionais sobre os cuidados necessários durante a colheita de café em tempos de Covid-19. Os primeiros encontros estão sendo realizados no sul de Minas gerais.
O setor cafeeiro está otimista em relação aos impactos da crise no consumo. Há sinalizações de que o consumo no lar possa superar as reduções de consumo fora de casa. No entanto, pode haver movimentações para os produtos de qualidade inferior e menor preço.
Lácteos
Os produtores continuam receosos com o não cumprimento dos preços acordados pelos Conseleites. Além de Paraná, Minas Gerais e Goiás, que já apontavam discrepância na semana passada, em Mato Grosso do Sul houve sinalização de uma possível redução nos valores apontados para pagamento do leite entregue em maio pelos produtores.
Em relação à balança comercial, com a cotação do dólar elevada, o volume de produtos lácteos importados em abril caiu 35% em relação a março, com maior destaque para o leite em pó (-39%).
Aves e suínos
Para os casos em que for necessária a adequação entre a oferta de animais e a capacidade de abate decorrente do fechamento temporário de abatedouros devido à Covid-19, o Ministério da Agricultura em conjunto com os setores industrial e produtivo, publicou uma série de recomendações para um eventual despovoamento em granjas.
A paralisação das duas maiores plantas de abate do país, a BRF de Lajeado (RS) e a BRF de Marau (RS), fizeram com que os animais que iriam para essas plantas fossem enviados para abate em Mato Grosso e Goiás.
Como reflexo da baixa de estoques após o Dia das Mães e a entrada dos salários, o preço do frango vivo no mercado de referência (SP) subiu para R$ 3 por quilo na semana passada, alta de 3,45% em relação ao final da semana anterior.
Para os produtores independentes, as cotações do suíno vivo tiveram leve recuperação em algumas praças. Em relação à semana passada, as cotações registraram alta no Paraná (+1,1%), Santa Catarina (+6%) e Rio Grande do Sul (+9,4%).
Boi gordo
O mercado segue estável, com as exportações sendo as principais responsáveis pela manutenção dos preços em patamares de R$ 200 por arroba. A exportação vem respondendo por mais 30% do que é abatido no Brasil, sendo que em anos anteriores representava uma média de 25%. Os valores de exportação em 2020, por tonelada de carne, estão, em média, 17,8% superiores ao mesmo período de 2019.
Ainda com a oferta de boi restrita, os preços da arroba bovina não disparam devido à redução da demanda pela carne ocasionada pela crise da Covid-19, além da elevação de preços no varejo.
Em São Paulo, a cotação para animais destinados ao mercado interno está no patamar de R$ 185, enquanto nos demais estados, em média, fica próxima à R$ 175. Esses valores preocupam os produtores, principalmente recriadores e terminadores, devido aos recentes aumentos no custo de produção.
Enquanto isso, as indústrias vêm seguindo as recomendações dos Ministérios da Agricultura e da Saúde para manter as operações de abate dentro da normalidade.
Aquicultura
A CNA, em reunião com o ministro da Economia Paulo Guedes, defendeu a necessidade de maior acesso ao crédito e a inclusão da safra como garantia dos financiamentos dos aquicultores.
No Paraná, diante da queda do preço pago pelo peixe, a Emater está orientando os produtores sobre as medidas para minimizar o risco de mortalidade ou o surgimento de doenças com o represamento de animais na propriedade.