Com oferta restrita, preço do trigo dispara na Argentina

Valor interno do produto já é o mais alto do mundo, em US$ 470 a tonelada para cereal de boa qualidadeA restrição da oferta de trigo na Argentina fez disparar as cotações do grão. O preço interno do produto já é o mais alto do mundo, em US$ 470 a tonelada (t) para cereal de boa qualidade, Ph superior a 78 e 30% de glúten. Grão de menor qualidade está sendo negociado a US$ 337/t. Os valores superam em muito a cotação sinalizada para a safra nova (embarque em dezembro) na região de Up River, que é de US$ 230/t.

Principal fornecedor de trigo para o Brasil, a Argentina produziu em 2012/2013 nove milhões de toneladas, 37,9% abaixo do ano anterior. Além de não conseguir atender à indústria brasileira, encontra dificuldade até para abastecer moinhos internos.

– Se o Brasil tivesse que comprar trigo dos Estados Unidos, hoje, pagaria no máximo US$ 310. Hoje o preço é uma loucura e varia de acordo com a qualidade e o lugar onde o moinho está instalado – disse o analista Alejandro Vejrup, da Associação Argentina de Consórcios Regionais de Experimentação Agrícola (ACREA).

Fonte da indústria detalhou que, nesta sexta, 14, um moinho em Luján, distante 74 quilômetros da capital federal, chegou a pagar 2,5 mil pesos a tonelada, equivalentes a US$ 469/t pelo câmbio oficial.
 
Os moinhos menores e mais afastados do sul da província de Buenos Aires (responsável por 45% da produção nacional), produtora por excelência, precisam comprar trigo de boa qualidade para misturar ao trigo de baixa qualidade produzido na última safra. As inundações ocorridas durante o cultivo provocaram doenças nas plantas, como a ferrugem. Os custos de frete são responsáveis por 20% da alta do cereal, segundo informou fonte da indústria.

A baixa oferta para os moinhos está provocando uma crise no setor, que está operando com horário reduzido, especialmente os pequenos estabelecimentos.

– O pouco trigo que aparece é muito caro e não podemos bancar. Há dias que não estamos podendo trabalhar – afirmou a fonte. Conforme dados do Ministério de Agricultura, a última colheita chegou a 9 milhões/t, das quais 6 milhões/t são destinados ao consumo interno. Os 3 milhões/t restantes foram autorizados para exportação.
 
Desabastecimento

Nas contas de Vejrup, nos seis meses posteriores ao fim da colheita, a partir de janeiro, a indústria consumiu cerca de 2,7 milhões/t, cerca de 450 mil toneladas/mês. O volume é menor do que os seis milhões/t garantidos para o abastecimento doméstico. Nos próximos quatro meses, a indústria deveria consumir mais 3,2 milhões de toneladas. O problema é que o trigo desapareceu do mercado.

– Estão especulando com o preço, mas um valor igual aos de hoje será impossível de conseguir – opinou López. Ambos os analistas consideram que o mercado vai segurar o produto enquanto puder.
 
A dificuldade de abastecimento na Argentina reflete as perdas com o clima em 2012 e a política oficial de controle do mercado. Depois de amargar os últimos anos um preço interno deprimido, os produtores veem a cotação se recuperar, mas não estão nada satisfeitos com a intervenção governamental. Tanto que organizaram uma paralisação a partir do sábado, 15, interrompendo a venda de seus produtos, o que promete complicar ainda mais a situação dos moinhos.
 
Brasil

Pelo cenário atual, o Brasil continuará enfrentando dificuldades para se abastecer na Argentina.

– Do jeito que as coisas andam, os produtores não vão produzir mais trigo – disse Vejrup.

Segundo ele, as negociações de arrendamento de terras estão atrasadas em função de vários fatores: péssimo clima de negócios; elevada inflação na casa dos 26%; queda da rentabilidade; e controles cambiais.

– A dificuldade para fechar o preço dos aluguéis impede que o produtor prepare a terra para a implantação do trigo e esse atraso o leva a terminar semeando soja, milho, girassol ou cevada – afirmou Vejrup. 
 

Agência Estado