Segundo instituto Soja Livre, existem contatos de países da Europa para ampliar a compra desse produto. Mas valores pagos não compensam o trabalho, dizem produtores
Pedro Silvestre, de Nova Xavantina (MT)
Após dois anos de excelentes rentabilidades, com prêmios chegando a R$ 24 por saca, a soja convencional perde espaço em Mato Grosso. O principal motivo foi o excesso de oferta, que derrubou o valor das bonificações e obrigou vários agricultores a negociar a produção convencional com os mesmos preços das variedades transgênicas.
O produtor José Almiro Miller está finalizando o plantio da safra nos 1.800 hectares que possui. Ele vai manter a estratégia dos últimos anos e pretende cultivar 100% da área com sementes convencionais. A valorização da soja “não-transgênica” no mercado pesou na decisão.
“A gente nota que está surgindo alguns insetos em que na soja transgênica é fácil de resolver e na soja convencional não é assim. Mas do outro lado também resolvo um monte de problemas que na Intacta eu não conseguiria. Não vou dizer que será sempre convencional aqui, mas por enquanto pretendo continuar. O prêmio da convencional chegou a dar R$ 24 por saca, mas agora caiu”, diz Miller.
A propriedade do agricultor fica em Nova Xavantina, região leste de Mato Grosso, onde muitas áreas são destinadas ao cultivo de soja convencional. Só que nesta safra, Miller foi um dos poucos a manter a aposta na variedade. O excesso de oferta do grão convencional no último ciclo derrubou os prêmios e desmotivou os produtores.
“A área de plantio da soja convencional na safra 2017/2018 foi de 18% em Mato Grosso, ou seja, produzimos uma boa safra. Só que isso gerou um excedente de soja no mercado e parte dos produtores ficou sem o prêmio, justamente em um período em que iria escolher que variedade iria plantar na próxima safra. Quem não tinha prêmio naquele momento decidiu reduzir a área, ou não plantar mais convencional”, diz o presidente do Instituto Soja Livre, Endrigo Dalcin.
Com a falta de prêmios, muitos agricultores foram forçados a negociar a produção convencional pelo mesmo valor das variedades transgênicas. Em Querência, segundo o presidente do Sindicato Rural, Osmar Inácio Frizzo, a venda sem bonificação causou prejuízos de até 6% para os agricultores e acabou refletindo na área destinada ao grão convencional nesta safra.
Na fazenda dele, a chamada soja livre só permaneceu no campo por estratégia. De olho na redução da oferta, ele acredita em uma retomada dos prêmios. “Os números que falam por si. Queria manter, mas se os dados não são favoráveis, não tem como se manter. É um manejo muito difícil, complexo e se não tiver prêmio para compensar não vale a pena plantar”, diz Frizzo.
Segundo o Instituto Soja Livre, as lavouras de soja convencional devem recuar no estado e ocupar 12% da área total cultivada com soja nesta safra. Bem menos que os 18% semeados com o grão no ciclo anterior.
“Termos que persistir nesse plantio, porque tem tem momentos de alta e momentos de baixa que o produtor precisa estar no mercado. A soja convencional tem remunerado mais que a transgênica, é uma opção a mais para o agricultor rotacionar princípio ativo de produto químico e às vezes o agricultor não percebe isso”, diz Dalcin. “Tem muita gente querendo comprar a soja convencional, tivemos contato do pessoal da Alemanha, querendo transformar a suinocultura daquele país com o farelo de soja convencional, mas querem uma garantia de volume de fornecimento, temos várias tradings querendo também. O ideal era conseguir manter em torno de 20% de área plantada com convencional.”