O movimento da Comissão (braço executivo da União Europeia) e do comissário John Dalli, escolhido pelo presidente José Manuel Barroso para regulação de biotecnologia, foram bem recebidos pela indústria do setor e criticados por grupos ambientalistas, de modo que fortaleceu as divisões de opinião na Europa.
? É um mau começo para o novo comissário ? disse o porta-vos do grupo ambientalista Amigos da Terra, Adrian Bebb.
? Temos várias preocupações muito fortes sobre a nova comissão de Barroso no que diz respeito às safras geneticamente modificadas.
As companhias de biotecnologia dizem que a decisão da Comissão sobre a batata Amflora, desenvolvida pela Basf, mostra que a Europa está finalmente seguindo suas próprias regras sobre aprovações de biotecnologia. A Basf precisou esperar quase 14 anos para conseguir uma autorização da União Europeia para o cultivo da batata, depois de uma série de revisões de segurança pelo governo da Suécia. A Autoridade de Segurança Alimentar Europeia (EFSA) disse que a batata não apresenta riscos à saúde humana ou ao meio ambiente.
A Comissão também aprovou três variedades de milho desenvolvidas pela Monsanto, para utilização na alimentação animal.
? As autoridades estão seguindo a lei e isso tem de ser a notícia ? comentou Willy de Geef, secretário geral da EuropaBio, principal grupo de lobby da indústria de biotecnologia.
? É tudo o que sempre pedimos.
Os ambientalistas, entretanto, disseram que a EFSA rotineiramente minimiza preocupações sobre a saúde quando aprova safras geneticamente modificadas.
O presidente Barroso afirmou no ano passado que pretendia investigar a possibilidade de permitir que os governos nacionais tivessem mais poderes sobre a regulação do cultivo de OGMs dentro de suas fronteiras. A Comissão informou que publicará uma proposta acerca do assunto. Sob os procedimentos atuais, a maioria absoluta dos governos nacionais da União Europeia precisa apoiar ou se opor à autorização de safras biotecnológicas para que elas sejam aprovadas ou não.
Na maioria dos casos, os governos não conseguem maioria absoluta e a decisão fica para a Comissão. Ela já autorizou a importação de vários produtos de alimentação humana e animal nos últimos anos, mas, antes da permissão para a batata da Basf, apenas uma variedade de milho da Monsanto foi aprovada para cultivo.
Um bloco de países como Grécia, França, Áustria e Hungria se opõe à permissão do cultivo, ou até mesmo a importação de transgênicos. Mas outros países como Reino Unido, Holanda e República Tcheca são a favor. Especialistas acreditam que a permissão para que os governos aprovem seus próprios OGMs provavelmente resultará em mais safras do tipo na União Europeia.
De modo geral, a opinião pública se opõe à utilização de transgênicos em alimentos, de acordo com a pesquisa Eurobarometer de 2006. Mas produtos usados em instalações industriais – como a batata da Basf, que serve para produção de amido – são vistos como mais favoráveis, segundo a pesquisa.
Ambientalistas e alguns cientistas se preocupam, ainda, com a possibilidade de o gene que confere à batata resistência a dois importantes antibióticos vir a selecionar bactérias que, por sua vez, sejam resistentes ao antibiótico. A EFSA rejeitou esta ameaça em pronunciamento divulgado no ano passado.