Comitiva internacional vem ao Brasil para cobrar informações sobre crimes contra ativistas do CPT e do MST

Número de ativistas ameaçados ou vítimas da violência cresceu 177,6% de 2010 para 2011, passando de 125 para 347 casos no período, segundo relatórioUma delegação internacional da Fundação Right Livelihood chegou no domingo, dia 31, ao Brasil para cobrar esclarecimentos sobre o assassinato de militantes sociais ligados principalmente à Comissão Pastoral da Terra (CPT) e ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

A entidade sueca cita dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) que indicam que o número de ativistas ameaçados ou vítimas da violência cresceu 177,6% de 2010 para 2011, passando de 125 para 347 casos no período. A fundação menciona o assassinato de um dos líderes do MST, Cícero Guedes, em janeiro deste ano, como um dos crescentes ataques contra ativistas brasileiros envolvidos na luta pela reforma agrária.

A delegação é formada por dois ganhadores do chamado Prêmio Nobel Alternativo (Right Livelihood Award), concedido desde 1980 pela entidade, a inglesa Angie Zelter e o biólogo argentino Raúl Montenegro. Também integra a comissão a ex-parlamentar sueca Marianne Andersson, que faz parte do conselho diretivo da fundação.

Na segunda, dia 1º, o grupo deve visitar assentamentos do MST em Eldorado dos Carajás, no Pará. Em nota, a fundação avalia que a violação contra os movimentos sociais no Estado é “particularmente grave, com elevado índice de desmatamento e grande número de casos de flagrantes de trabalho em condição semelhante à escravidão e de ameaças a defensores dos direitos humanos”. Dos 29 casos de ativistas rurais mortos em 2011 no país, em função de sua militância, 12 ocorreram no Pará, segundo levantamento da CPT.

Na terça, dia 2, a delegação participa de um debate público sobre a impunidade em casos de violação aos direitos humanos. O evento ocorrerá no campus de Marabá da Universidade do Estado do Pará (Uepa). Ainda em Marabá, o grupo vai acompanhar, a partir de quarta, dia 3, o julgamento dos três acusados de matar o casal de extrativistas paraenses José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva.

Os dois foram mortos a tiros em maio de 2011, em um assentamento em Nova Ipixuna, no sudeste do Pará. Eles denunciavam a extração ilegal de madeira na região em que viviam e afirmavam receber constantes ameaças de morte.

A expectativa da Justiça Estadual é que o julgamento de José Rodrigues Moreira, Lindonjonson Silva Rocha e Alberto Lopes do Nascimento seja concluído em dois dias. Devido à grande repercussão do caso e à expectativa de que muitas pessoas queiram acompanhar o júri, o juiz responsável pelo caso, Murilo Lemos Simão, pediu que o policiamento seja reforçado.

O MST planeja montar um acampamento diante do fórum, onde espera reunir cerca de 500 pessoas de vários movimentos sociais. Alguns representantes serão escolhidos para acompanhar o julgamento.

– Nossa expectativa por um resultado justo e satisfatório é muito grande. Nessa nossa região predomina a cultura da impunidade, mas imaginamos que, por se tratar de um júri popular, os rumos [do julgamento] vão ser outros e a justiça vai ser feita. Queremos que os assassinos de trabalhadores sejam condenados e sabemos que nossa presença, fazendo pressão, é fundamental – disse Ivagno Silva Brito, dirigente do MST no Pará.