Próximo ciclo tende a ser um dos mais caros da história, por isso o Soja Brasil ouviu especialistas para ajudar o produtor a planejar a próxima safra
Rikardy Tooge | São Paulo (SP)
O custo de produção é um tema de preocupação do produtor rural para o ciclo 2015/2016. Segundo uma estimativa do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), essa deve ser a safra mais cara da história. Para garantir rentabilidade, o planejamento de safra se torna uma arma importante do sojicultor. O Soja Brasil ouviu especialistas e orienta como o sojicultor deve pensar o próximo ciclo.
Só em Mato Grosso, principal estado produtor do grão, a estimativa é de um incremento na ordem de R$ 1 bilhão nos gastos com a lavoura. Na opinião do diretor técnico da Associação dos Produtores de Soja e Milho do estado (Aprosoja-MT), Nery Ribas, o planejamento faz diferença. Ribas lembra que o momento não é para grandes investimentos, como, por exemplo, gastar muito para aumentar a produtividade em 2 a 3 sacas por hectare.
– O primeiro passo por si só é fazer o planejamento. O produtor não faz ideia do ganho disso. Se o produtor puder contar com um profissional para a tomada de decisão, melhor. Mas nada substitui o agricultor conhecer bem sua propriedade, ir mais para a lavoura, adotar o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Isso ajuda a reduzir aplicações. As ferramentas mais antigas auxiliam na redução de custos – destaca.
• Análise: Como ficará o custo de produção na próxima safra?
O CEO da MacKensie Agribusiness, consultoria especializada em custos de produção, Carlos Araújo, reforça que o sojicultor deve fazer uma safra com cautela, evitando grandes investimentos, reforçando a ideia de produzir mais com menos.
– O brasileiro não tem o hábito de planejar, mas isso é muito importante. Com esse cenário de forte variação cambial, o produtor deve ter mais o pé no chão. Todo mundo gostaria de utilizar as melhores tecnologias, as melhores máquinas. Mas será que a soja vai remunerar isso? Então é melhor trabalhar dentro de um padrão médio, ter boa produtividade a custo razoável, do que investir muito e não ter retorno – diz Araújo.
Custo por quilo
Uma das dicas do CEO da MacKensie Agribusiness é o produtor pensar no custo por quilo da produção. A conta é simples: basta o pegar o orçamento da próxima safra (sementes, insumos, mão de obra, custo da propriedade) e dividir pela média de quilos produzidos nos últimos três anos. Com esse cálculo, é possível o produtor ter uma ideia de quanto custa produzir uma saca de soja e tentar ajustar os gastos para conseguir um lucro melhor.
– Vale lembrar que produtor de soja só teve rendimento por causa da variação cambial na safra 2014/2015. Na próxima safra, o custo está mais alto e tende a subir com o dólar. Portanto, fazendo um planejamento você consegue descobrir o custo no quilo ou tonelada, assim você sabe o quanto custa produzir sua saca de soja – explica.
O que priorizar?
Para o consultor técnico do Projeto Soja Brasil, Áureo Lantmann, a safra 2015/2016 deve apresentar queda na compra de fertilizantes. Vale lembrar que esse produto é o item mais caro do custo de produção. Na avaliação do especialista, o produtor deveria investir menos em adubação e comprar uma semente de boa qualidade, que é o segundo item no custo de produção.
Lantmann reforça que mudar a prioridade, privilegiando sementes no lugar da adubação, pode ser um bom negócio para o próximo ciclo. Já que uma semente com boa vigor consegue aproveitar melhor o solo e aguentar mais aos problemas climáticos que uma soja de menor qualidade com boa adubação.
– Nós temos dados que o produtor aumentou a adubação em 20% nos últimos seis anos e o rendimento não acompanhou. Então é o momento de investir menos em adubação, usar a poupança do solo e priorizar a semente, sem dúvida. Isso não quer dizer que produtor vai produzir menos – lembra o consultor.
Poupança do solo
Como destacado por Áureo Lantmann, os especialistas consultados concordam que é o momento de o produtor optar pela chamada poupança do solo, quando os níveis de nutrientes do terreno estão altos e podem aguentar um ciclo com pouca ou nenhuma adubação.
– O momento é de mais produtividade com menos e os fertilizantes geram mais custos. A palavra deste ciclo é produtividade. É o momento de o produtor utilizar a poupança que ele fez no solo nos últimos anos – comenta Nery Ribas, que também preside o Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), que fomenta mais produtividade por menos hectare.
O gerente de Marketing da Yara Brasil Fertilizantes, Paulo Yvan, projeta menos compras de fertilizantes. Mas ele destaca que o produtor deve ter muito conhecimento sobre o seu solo, com análises regulares.
– A poupança do solo, como o próprio nome diz, é algo que você pode utilizar, mas depois vai precisar repor. Então a gente pode até ter uma variação de consumo, mas uma hora o produtor vai precisar colocar os nutrientes no solo. Sem falar que muitos produtores acham que tem uma poupança que não tem, e durante a safra pode ser tarde para repor – destaca o gerente.