Nesta safra, 4 milhões de toneladas de soja devem ser colhidas pelos 20 maiores grupos produtores que atuam em Mato Grosso, que representa quase 20% da produção estimada.
Este cenário preocupa as lideranças do setor, que temem a exclusão dos pequenos e médios agricultores da atividade. Em 2005, os grandes grupos eram responsáveis por apenas 9% dos grãos produzidos no estado. Em seis anos, esta participação cresceu 122%.
? A concentração vem acontecendo. Os 20 maiores grupos dobraram a participação deles na área plantada nos últimos cinco anos e eles tem um poder de fogo muito grande. Estes grupos têm compras em grande escala, captam juros menores, e estão se aproveitando da situação de alguns produtores mais fragilizados para arrendar suas áreas ? afirma Marcelo Monteiro, diretor executivo da Aprosoja.
O tamanho exato da área total concentrada nas mãos destes grupos ainda não é conhecido, mas em alguns lugares esta presença já está consolidada. Em Dimantino, na transição entre o centro-sul e médio-norte do Estado, dos 300 mil hectares destinados à agricultura, 230 mil estão sob o domínio de grandes empresas.
? É uma dificuldade muito grande, porque estes grandes grupos pagam arrendamentos fora da realidade da nossa região e, consequentemente, o produtor faz a conta e vê que é muito mais viável arrendar para estes grandes grupos, que tem uma certeza de liquidez e rendimentos e tão tirando outros produtores ? Milton Criveletto, presidente do sindicato rural de Diamantino.
Entre os principais motivos para o aumento da concentração, o setor aponta a falta de logística, que compromete a rentabilidade dos agricultores, e o endividamento, este apontado pela classe produtora como a principal causa. Estima-se que em um universo de 5 mil produtores rurais, pelo menos mil não teriam condições de pagar as contas que se arrastam desde 2004.
? O endividamento rural ainda não está resolvido. As medidas só prorrogam, os prazos são curtos e a divida que já estava inflada se inflou ainda mais, com juros exorbitantes. Tem muito produtor que está em situação difícil. Não é regra geral, mas temos que olhar para os produtores que nos pedem ajuda e trabalhar para que os problemas sejam resolvidos. Porque num ano como este, com grande produção, temos que olhar pra ver o produtor ? afirma Monteiro.
A estimativa é de que o montante das dívidas agrícolas em Mato Grosso chegue a R$ 2 bilhões.