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CONEXÃO NO CAMPO

Conectividade muda cenário de trabalho para agricultores do interior de São Paulo

Veja como a inclusão digital auxilia os trabalhos de agricultores no município de Caconde

Tecnologia no campo, conectividade livro
Foto: Pixabay

O município de Caconde é o maior produtor de café do Estado de São Paulo. Se por um lado a altitude elevada garante a qualidade do grão ali cultivado, por muito tempo foi um problema para a conectividade e copmunicação entre os cafeicultores e o resto do mundo, uma vez que internet e telefonia móvel se popularizaram na zona rural apenas a partir de 2019.

A maioria dos cerca de 2 mil produtores rurais do município, a distantes 287 quilômetros da capital paulista, reside em suas propriedades.

O potencial da conectividade para os agricultores de Caconde, 96,3% deles com propriedades de até 88 hectares, que começa a ser explorado, vem ganhando impulso com a instalação do Distrito Agrotecnológico (DAT) há pouco mais de um ano.

O DAT do município é um dos cinco previstos para o Estado de São Paulo no âmbito do Centro de Ciência para o Desenvolvimento em Agricultura Digital (CCD-AD/Semear Digital), sediado na Embrapa Agricultura Digital, em Campinas, em parceria com o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), a FAPESP e uma série de outros parceiros. No total, dez DATs serão instalados por todo o país ao longo da duração do projeto.

Para Ademar Pereira, presidente do Sindicato Rural de Caconde e coordenador do DAT do município, a conectividade fez um grande trabalho de inclusão digital. “Ela se tornou uma ferramenta de trabalho, seja para verificar se há um insumo disponível na cooperativa, seja para acessar diretamente um potencial cliente, como uma cafeteria, em vez de vender para um atravessador”, comenta.

No dia a dia das casas da zona rural, tarefas básicas como pagamento de contas, marcação de consultas médicas e compras pela internet se destacam na fala dos moradores como facilidades inexistentes até pouco tempo atrás, que agora podem ser usufruídas através do aumento da conectividade.

O DAT de Caconde foi um dos pilotos para a implantação do modelo do Semear Digital. O outro foi o de São Miguel Arcanjo, município dedicado à horticultura e fruticultura a cerca de 180 quilômetros de São Paulo.

Café com peixe

“O objetivo do Distrito Agrotecnológico é a implantação de conectividade, capacitação e desenvolvimento de tecnologias de agricultura digital para melhorar o trabalho do agricultor”, explica Luciana Romani, pesquisadora da Embrapa Agricultura Digital e coordenadora do Semear Digital.

“Aqui em Caconde, atuamos há pouco mais de um ano com foco no café, fazendo toda uma capacitação e manejo, melhorando a produção e verificando possibilidades de implantação de tecnologias digitais”, completa a pesquisadora.

Funcionário alimenta tilápias em tanque-rede na represa de Caconde: produtor espera melhorar gestão da propriedade e recursos com ajuda de tecnologia.

Romani conta ainda que, mais recentemente, a equipe do centro verificou uma demanda dos piscicultores, muitos também cafeicultores, por tecnologias para melhorar o manejo da produção de tilápia. O peixe é cultivado em tanques-rede na represa do município e em tanques escavados nas propriedades.

“A digitalização poderia agilizar o serviço, facilitar um manejo mais correto, com melhor controle das condições da água e da ração, além de uma gestão mais eficiente da propriedade, como saber melhor os custos da produção, por exemplo”, diz à Agência FAPESP Giuliano Matias Dias, às margens da represa da cidade, onde possui 250 tanques-rede, com cerca de 1.500 peixes cada um.

No dia da visita da Agência FAPESP a Caconde, a startup Teletanque realizava um treinamento com piscicultores para melhorar a gestão dos tanques e das propriedades, com a ajuda do aplicativo criado pela empresa.

Treinamento de piscicultores para uso de aplicativo para gestão da produção de tilápias: parceria com startups é parte dos objetivos dos DATs para alavancar pequenos produtores.

Com dados inseridos pelo produtor e outros coletados remotamente por sensores na água, o sistema permite gerenciar diversos aspectos da produção, de forma a reduzir o desperdício e aumentar a produtividade.

Novos mercados através da conectividade

Na produção de café, as principais demandas dos produtores no início do projeto eram o rastreamento e a certificação do produto, gestão da propriedade, compra e venda de insumos, além da busca de compradores que praticassem preços melhores que os do mercado, buscando por nichos para cafés especiais. Outra demanda era de previsão de riscos climáticos.

Algumas soluções podem se dar com tecnologias desenvolvidas pela própria Embrapa Agricultura Digital, em aplicativos como Agritempo Móvel, Plantio Certo e Bioinsumos, que devem ser objeto de treinamento dos produtores por técnicos do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), parceiros do Semear Digital.

Como parte dos objetivos do DAT, busca-se ainda startups parceiras que possam atender às demandas dos produtores de Caconde.

“O café daqui, como é produzido em áreas de altas altitudes (até cerca de 1.400 metros acima do nível do mar), tem uma qualidade superior, por isso merece um diferencial do mercado. Daí que a rastreabilidade e nichos de mercado são importantíssimos para conseguir preços melhores”, afirma Ariovaldo Luchiari Junior, pesquisador da Embrapa Agricultura Digital, que acompanha os produtores de Caconde antes mesmo da instalação do DAT.

O agricultor Paulo Cesar Ielo Dissordi ainda precisa da ajuda da filha para lidar com muitas das aplicações às quais agora tem acesso graças à conectividade, mas quer ir além. Sua propriedade, que abriga uma das antenas que distribuiu o sinal da internet no município, tem 30 hectares plantados de café.

Ele agora investe no próprio rótulo e tem muitas expectativas em relação ao DAT. “Quero treinamento para trabalhar com marketing digital e divulgar minha marca”, anseia.

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