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Congresso da Abag destaca mundo pós-pandemia e sustentabilidade

Especialistas destacaram a pujança do agronegócio brasileiro e a importância de se adequar ao novo mercado consumidor cada vez mais exigente

A Associação Brasileira do Agronegócio, ABAG, realizou na manhã desta segunda-feira, 3, o 19º Congresso Brasileiro do Agronegócio. Realizado virtualmente devido à pandemia da Covid-19, o evento teve como tema Lições para o Futuro e reuniu especialistas para debater assuntos como o Agro brasileiro e a crise global, mercado financeiro, seguro e crédito rural e o agro e a nova dinâmica econômica, social e ambiental.

Durante a abertura do congresso, o presidente do Conselho Diretor da ABAG, Marcello Brito, reforçou que o mundo pós-pandemia priorizará a saúde, sanidade e a sustentabilidade. “Isso abre ao Brasil e ao mundo portas de um novo paradigma de desenvolvimento em uma visão moderna, verde, de baixo carbono, justa e integrativa”, destacou.

Além disso, a liderança ainda ressaltou que os holofotes das críticas estão voltados para o Brasil, detentor da mais importante floresta tropical do mundo,  que os desmatamentos e queimadas ilegais na Amazônia são crimes a serem efetivamente combatidos.

“O desmatamento ilegal é uma perda de diversidade, ruim para a sociedade e péssimo para o nosso negócio e o agro precisa assumir o protagonismo dessa agenda. Apesar dos desafios, temos uma relativa estabilidade econômica, mas precisamos de estabilidade política, segurança jurídica e garantia de melhorias contínuas, uma política ambiental séria”, afirmou Brito. 

Ainda em seu discurso, o presidente do conselho diretor da associação reiterou a importância de acompanhar as reformas tributária, administrativa e política, que deverão acelerar o país, sem tirar a competitividade das agroindústrias brasileiras. Do mesmo modo, os acordos comerciais, como Mercosul e União Europeia, foram destacados como peças fundamentais para o crescimento do agronegócio.

Inclusive, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, relembrou durante o congresso que, somente neste ano, 70 novos negócios foram abertos ao Brasil. “Ninguém tem dúvidas da potência que o Brasil tem no agronegócio, mas também na área ambiental, conseguimos produzir e preservar. Estamos diminuindo o uso da terra e aumentando a produtividade”.

Juntamente com o crescimento do agronegócio também serão necessários investimentos em infraestrutura logística. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, afirmou que nos próximos anos cerca de R$ 40 bilhões serão investidos em ferrovias no país. 

“Isso aumentará a oferta de transporte, temos também a pavimentação da BR-163, que já refletiu em uma redução de 26% no valor do frete rodoviário. Além disso, temos investimentos nos portos, tornando-os mais competitivos e aumentando a capacidade portuária”, disse o Ministro.

O evento contou com três painéis moderados pelo jornalista, William Waack. No primeiro, o Agro Brasileiro e a Crise Global, participaram Grazielle Parenti, Presidente do Conselho Diretor da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos, ABIA, Márcio Lopes de Freitas, Presidente do Sistema OCB e Paulo Sousa, Presidente da Cargill no Brasil. 

Grazielle reforçou que a preocupação com a sustentabilidade não é só uma questão de consumidores, mas também dos investidores. Já o presidente da Cargill no Brasil destacou que os grandes consumidores irão gastar com produtos de empresas que estão alinhados com os valores que eles têm com o meio ambiente. 

“Existe no mercado norte-americano e europeu grande preocupação em relação ao meio ambiente, emissão de carbono e a biodiversidade. A Europa, por exemplo, se auto impôs um requisito para redução de emissão de carbono, é muito coerente por parte do consumidor que irá pagar por um produto exigir que tenha o mesmo rigor”, disse Sousa.

Já o segundo painel sobre o Mercado Financeiro, Seguro e Crédito Rural começou com vídeo do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmando que o bom desempenho do agronegócio brasileiro tem evitado uma queda maior no PIB, Produto Interno Bruto, do país. 

“Mesmo em tempos difíceis, o agronegócio não só continuou a produzir alimentos para milhões de pessoas, como tem ajudado a nossa economia. O bom desempenho do setor tem evitado uma queda maior no PIB e contribuído para as nossas contas externas”, destacou o presidente do Banco Central.

Um dos destaques nesse painel foram as fintechs e como elas têm impactado o mercado de crédito rural. Para Fábio Zenaro, Diretor de Produtos Balcão, Commodities e Novos Negócios da B3, as fintechs têm permitido o desenvolvimento mais rápido em determinados aspectos, como a emissão de CPR, Cédula de Produto Rural. “Traz mais rapidez, mais transparência, mais segurança e abre novos horizontes através de trabalho mais específico”, completa. 

O Diretor de Agronegócios do Itaú BBA, Pedro Fernandes, também ressaltou que as fintechs trazem mais transparência, mas reforçou que a importância das fintechs aumentará muito ainda nos próximos anos. Para o Presidente da BrasilSeg, Ivandré Montiel da Silva, as fintechs representam modernidade e oportunidade. 

No terceiro e último painel, o destaque foi o Agro e a Nova Dinâmica Econômica, Social e Ambiental. José Roberto Mendonça de Barros, Sócio Diretor da MB Associados e um dos painelistas explicou que o mundo pós-pandemia algumas tendências serão acentuadas, como a cidadania, o consumo e o trabalho.

“As pessoas estarão atentas a uma vida mais simples, estarão mais próximas à natureza. Enquanto consumidores estarão mais ligados à qualidade dos alimentos, a sua origem, rastreabilidade. E no caso do trabalho, perecemos uma aceleração da digitalização, que é um grande desafio”, ponderou Barros.

O Diretor Executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, IPAM/Coalização Brasil, André Guimarães reiterou a importância do agronegócio brasileiro para a segurança alimentar do planeta. “Mas esse modelo de desenvolvimento não se sustentar daqui para frente. Ou resolvemos a equação do clima ou estamos colocando nossa galinha de ovos de ouro em risco. Sem a Amazônia em pé a gente não tem reputação, não tem atratividade de capitais e pode ter pouca chuva para fazer o agronegócio do futuro”, destacou.

O filósofo e colunista da Folha de São Paulo, Luiz Felipe Pondé, ainda reforçou que a empolgação da pandemia é achar que o mundo será diferente depois dela. “Daqui a cinco anos ninguém vai lembrar da pandemia, há 6 meses ninguém lembrava da gripe espanhola. Parte das modificações do varejo já estavam em processo e a pandemia acabou as radicalizando”, destacou.