MT: conheça a história do trabalhador morto em nova explosão de silo

No mês passado, o trabalhador Rogério Evangelista de Souza foi vítima de um desabamento em um armazém de milho. O Canal Rural foi até Tangará da Serra conversar com parentes e colegas dele e saber as possíveis causas do acidente

Mais um acidente envolvendo silos aconteceu em Mato Grosso. Desta vez, foi no município de Tangará da Serra. Na sexta-feira, dia 25 de novembro, duas estruturas que armazenavam milho desabaram. O acidente matou Rogério Evangelista de Souza, um jovem de 28 anos que fazia o que mais gostava: lidar com o campo.

Nascido em Pontes e Lacerda, no sudoeste de Mato Grosso, Rogério cresceu em uma família humilde. Era o caçula de sete irmãos, quatro homens e três mulheres, uma delas é gêmea dele. Havia cinco anos, vivia com a família em Tangará da Serra. Casou-se sete meses antes do acidente, mas fazia 15 dias que estava separado da mulher. Passou a morar com sua mãe, Iraci Francisca de Souza, de 61 anos.

Evangélico, tinha o sonho de se tornar músico na igreja que frequentava. Estudava música para isso. Outra meta era adquirir a casa própria. Sonho de difícil realização, pois, devido à crise econômica, ficou muito tempo desempregado. Conseguia bicos apenas como diarista.

Em um desses bicos, surgiu a oportunidade de trabalho no armazém em que ele viria a encontrar a morte. Agarrou a oportunidade com unhas e dentes. Via ali a oportunidade de realizar o sonho da casa própria. Trabalhou por dois meses e foi registrado em carteira dois dias antes da tragédia que tirou sua vida.

“Meu irmão era um guerreiro. Dos 20 anos para cá, teve uma doença séria, leishmaniose. Estava se tratando. Ele ajudava muito a gente, eu e minha mãe. Ele adorava esse serviço dele, falava muito bem do patrão, era dedicado demais”, afirma a irmã Nerilene Evangelista de Souza.

Rogério não tinha filhos, mas tratava seus três enteados – dois meninos e uma menina – como se fossem biologicamente dele. Isso apesar de não viver mais com a esposa. O enteado João Victor Duarte Faria era o mais apegado ao padrasto e lembra das coisas boas vividas com Rogério.  

“Ele era muito legal, alegre, eu gostava muito dele. Às vezes, me levava para trabalhar com ele em algumas diárias. Vou sentir muita saudade”, diz João Victor.

“O meu irmão era tudo para mim. Ele sempre passava aqui em casa antes de ir para o trabalho. No dia do acidente, ele me falou uma coisa que ficou marcada em mim. Ele disse que o dia dele seria mais curto, não tão cansativo. Momentos depois, recebi o telefonema do acidente”, lembra a irmã Nerilene.

O acidente

Na manhã de sexta, dia 25 de novembro, às 9h, uma forte explosão aconteceu. Imediatamente teve início um corre-corre. De repente, formou-se uma montanha de ferro retorcido para todo lado. O pânico tomou conta de todos.

“O Rogério estava junto com outro funcionário varrendo embaixo do silo. O funcionário saiu para ir tomar café, e o Rogério ficou lá limpando”, afirma Cláudio Fastino de Souza, patrão do trabalhador.

“Foi horrível. A gente sai correndo do escritório na hora, sem saber o que estava acontecendo. Fomos todos para o armazém e começamos a gritar pelo nome do Rogério e nada…”, acrescentou a funcionária Emily Martins, que se disse bastante assustada com o acontecido.

“Corremos assustados ao encontro dele, mas chegamos tarde demais. Uma das barras de ferro havia acertado a cabeça dele e não teve jeito. Morreu ali mesmo. Ele era um rapaz muito querido pelos funcionários, era bem alegre, extrovertido. Eu estou inconformado. Nem acredito que isso possa ter acontecido com ele. Estamos todos muito abalados”, afirmou o funcionário Hélio Henrique.

O armazém era arrendado  por Cláudio Fastino havia sete meses. Ele garante que estava em dia com a manutenção, tinha alvará da prefeitura e liberação do corpo de bombeiros.

“Saiu muita conversa sem ter  apuração real dos fatos, saiu comentários que a empresa não estava adequada, saiu que a empresa não tem documentação legalizada para trabalhar. Isso não é verdade, tenho toda a documentação”, diz Fastino.  

No dia do acidente, os três silos – que tinham capacidade média para armazenar 40 toneladas cada um – não estavam cheios. Segundo Fastino,  havia pouco milho estocado: “Um estava com 30 toneladas, outro estava pela metade, e o terceiro estava sendo abastecido no momento. Caíram dois  silos primeiro. O último veio a cair cinco horas depois. Demos todas as assistências para a família, e agora a perícia está fazendo uma avaliação, tirando algumas fotos para saber a causa do acidente”.

A equipe da Politec esteve no local tirando fotos e recolhendo materiais para a perícia. Uma suspeita para o acidente seria de falhas na sustentação da estrutura. Os resultados dessa investigação estão sendo apurados.