As usinas sócias da Copersucar atingiram na semana passada a marca inédita de 5 milhões de Créditos de Descarbonização (CBIOs) escriturados, ou 15% do total emitido no programa RenovaBio desde 2020.
“Esses 5 milhões representam o esforço de acreditar no programa, se engajar e puxar a fila de credibilidade, porque acreditamos que o RenovaBio é fundamental para a indústria e a sociedade”, afirmou o presidente do Conselho de Administração da Copersucar, Luis Roberto Pogetti.
O CBIO é um crédito emitido por produtores e importadores de biocombustíveis no âmbito do programa RenovaBio. Cada um deles representa 1 tonelada de carbono equivalente que deixou de ser emitida na atmosfera. Distribuidoras de combustíveis têm metas anuais obrigatórias de compras desses créditos para compensar suas emissões.
Este ano, de acordo com Pogetti, a companhia pretende manter ou aumentar o ritmo de emissão desses títulos. “Hoje temos mais usinas homologadas no ano passado; e algumas já homologadas tiveram recertificação”, disse ele, referindo-se à possibilidade de revisão das práticas de uma unidade para mostrar que sua produção é mais sustentável e permitir a emissão de mais CBIOs.
Entre dezembro de 2020 e maio de 2021, o RenovaBio passou de 240 produtores de biocombustíveis inscritos para 276 (desse total, 247 são usinas de etanol, 27, de biodiesel, e duas de biometano). A Copersucar tem 33 usinas certificadas.
A receita obtida com CBIOs neste início de RenovaBio ainda não representa uma parcela alta dos ganhos totais das usinas, mas a expectativa é que ela aumente à medida que as metas de emissão e de compras de CBIOs sejam elevadas.
Pogetti também destacou que espera que a demanda de partes não obrigadas – entidades que não têm metas obrigatórias de compra mas que adquirem os títulos voluntariamente para neutralizar parte de suas emissões – aumente com o passar dos anos.
“Este ano, como há uma oferta relevante de CBIOs e a meta de compra ainda está na parte mais tímida da curva, é natural que o preço do CBIO não seja tão importante para a parte econômica da indústria”, disse. “Mas à medida que a sociedade entender a necessidade de descarbonização, o CBIO também pode ajudar outras indústrias, não só as partes obrigadas. Aí ele ganha musculatura e passa a ser um ativo de mercado.”
Por enquanto, o programa já possibilita, por exemplo, benefícios em crédito para usinas que aderem – o BNDES abriu uma linha ligada ao RenovaBio, e a Usina Santa Adélia, associada da Copersucar, fechou o primeiro contrato da instituição nessa modalidade, de R$ 100 milhões.
Há também iniciativas como uma espécie de barter, anunciada pela Basf, em que insumos agrícolas são trocados por CBIOs. A primeira parceira da Basf será a 3Tentos, produtora de biodiesel, mas a Basf afirmou que pretende também atender o setor sucroenergético.
“Esse é um exemplo de iniciativas que vêm de partes não obrigadas”, diz Pogetti. “É um reconhecimento de que o CBIO é um ativo, deve ir em linha ao que as empresas querem de reduzir suas pegadas de carbono.”
Pogetti comentou a novidade aprovada pela diretoria da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que permite que as distribuidoras de combustíveis possam ter suas metas de compras de CBIOs reduzidas proporcionalmente à compra desses títulos por agentes não obrigados. “Na nossa leitura, essa redução não tem previsão legal na lei original”, disse ele.
Para o executivo, o ideal seria que a meta só fosse reduzida caso a compra dos não obrigados causasse uma escassez de CBIOs no mercado, algo que não aconteceu até o momento.
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Expansão internacional dos CBios
O executivo afirmou que, nos Estados Unidos, hoje os créditos de carbono têm mantido firme a demanda por etanol, mesmo com o alto preço do milho, principal matéria-prima do biocombustível no país. “O blender paga mais caro pelo etanol, mas tem receita importante, porque quando mistura etanol na gasolina ele tem uma receita de crédito de carbono relevante como resultado da atividade”, disse. “O preço do crédito está contribuindo para não frear a demanda de etanol que poderia ter caído por conta do aumento do milho.”
Pogetti se disse animado com as perspectivas para o aumento do uso do etanol em outros países. “Vemos hoje os Estados Unidos, depois da posse do Joe Biden, fortalecendo a expectativa de aumento de mistura, de 10% para 15%. Isso deve ganhar aceleração”, afirmou. “Também vemos Índia bem comprometida com programa de etanol.”
No país asiático, um dos principais produtores de cana-de-açúcar no mundo junto com o Brasil, a mistura do biocombustível na gasolina pode chegar em 20% até 2025.