Cooperativismo: conheça exemplos de sucesso no mercado de São Paulo

Estado possui o maior número de cooperativas do paísA ideia de trabalhar em cooperativa, do modo como conhecemos hoje, surgiu no século XIX, na Europa. No Brasil, os trabalhos começaram em 1902, com o padre Theodor Amstadt no Rio Grande do Sul. O modelo de trabalho era voltado para pequenas propriedades rurais e se baseava principalmente na honestidade entre os membros do grupo. De lá para cá o cooperativismo se espalhou pelo país, com atuação em 13 setores da economia.

São Paulo possui o maior número de cooperativas no país, com 3,4 milhões de cooperados. Somente no Estado são 120 cooperativas do agronegócio com mais de 170 mil cooperados, na maioria das vezes, pequenos produtores rurais que sem a cooperativa dificilmente conseguiriam colocar produtos no mercado. Isso porque eles trabalham com quantidades pequenas e as grandes empresas precisam de volumes maiores para garantir oferta aos clientes. Outra questão está na aquisição de equipamentos, que com a produção de uma única família não são viáveis financeiramente.

— A gente fala para o produtor que ele produz dentro da porteira. O fora da porteira a cooperativa tem que fazer o acompanhamento. Ela busca tecnologia nos institutos de pesquisa e transfere isso para o campo em um primeiro instante. O produtor colhe, recebe na cooperativa e ela processa o produto e busca o melhor momento para fazer a venda ou comercializar. Sem a cooperativa, muito provavelmente, muitos pequenos produtores estariam expulsos da atividade — comenta o presidente da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (Ocesp), Edvaldo Del Grande.
 
O produtor de leite João Vieira, do município de Laranjal Paulista, é um exemplo de como a organização pode beneficiar os criadores. Por causa das exigências da Instrução Normativa 51, ele teria que adquirir equipamentos de resfriamento e armazenagem, mas sozinho ficava muito caro. Junto com mais quatro vizinhos ele formou uma cooperativa e compraram as máquinas para usar em conjunto. Os anos passaram e hoje já são 90 cooperados. Além de dividir os custos, juntos eles conseguem lutar por um preço melhor para todos.

Situação parecida aconteceu com a Cooperativa de Laticínios de São José dos Campos (Cooper). Em 1935, um grupo de 21 pecuaristas decidiu trabalhar em conjunto e processar o leite para colocar no mercado sem precisar passar pela indústria convencional, garantindo maiores margens de lucro. Hoje eles vendem leite pasteurizado para 31 municípios da região e trabalham ainda com derivados de lácteos.

— Um pequeno produtor não é nada, mas vários pequenos juntos se tornam grandes e são e devem ser respeitados. A cooperativa ainda é a única maneira de sobrevivência do produtor, em especial do pequeno e médio produtor. Então, no nosso caso, que trabalhamos com leite a cooperativa é a mãe do produtor. Sem ela ele não sobrevive — afirma o presidente da Cooper, Benedito Vieira Pereira. 

Outro exemplo de sucesso é o da Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Cooplacana), de Piracicaba. A Cooplacana começou como uma associação de produtores de cana e foi a segunda cooperativa formal do Brasil. Hoje ampliou a área de atuação e trabalha ainda como cooperativa de grãos, hortifrutigranjeiros e também de leite. São nove mil cooperados em vários Estados. O produtor cooperado consegue sementes com melhores condições, rações para os animais e ainda melhor colocação do produto no mercado.

— Ela vem crescendo em torno de 25% a 30% ao ano. Como a cooperativa não é uma empresa que visa lucros, não é uma empresa capitalista, ela faz o quê? Faz com que o bem de um se transforme para todos — diz o diretor de cooperativismo da Cooplacana, Arnaldo Bortoletto.

Mesmo sendo uma estrutura eficiente de trabalho, as cooperativas também enfrentam dificuldades, assim como as indústrias convencionais. O presidente da Cooper fala desses problemas não como uma questão das cooperativas, mas do setor agrícola do país. Quando questionado sobre os incentivos dados pelo governo por meio do aumento de linhas de crédito e financiamentos para as cooperativas, ele lembra o cenário internacional do leite.

— Não é só o financiamento que a gente precisa. Precisamos valorizar o nosso produto e não valorizar o importado. No ano passado nós assistimos ao recorde de importação e em 2012 talvez a quebra do recorde do ano passado. Com o problema comercial, evidentemente o produto importado ficou de difícil competição. Esse leite é todo importado de países onde a gente sabe que existe subsidio de produção — reclama.

Mesmo com as dificuldades, é consenso entre os produtores que o trabalho em cooperativa é mais eficaz na geração de renda e colocação da produção no mercado nacional.

— O cooperativismo é um instrumento extremamente eficaz para melhorar a vida das pessoas ou para distribuir renda. Eu acho que é uma terceira via entre o capitalismo selvagem e o socialismo que não deu certo. Ele funciona bem no mundo e aqui no Brasil também está desempenhando seu papel. Atua importantemente para melhorar a vida dos nossos cooperados e da nossa população — afirma Grande.

— Quem está dentro do sistema do cooperativismo dificilmente sai, pois vê as vantagens que tem quando você une forças. Sabe-se que uma varinha sozinha se quebra fácil, mas um feche de varas não é tão fácil assim. Torna-se até inquebrável — comenta Bortoletto.

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