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Coronavírus e o agro: boi já atinge R$ 201; China volta a demandar soja

Confira os impactos da doença em cada cultura do agronegócio, segundo levantamento da consultoria Cogo – Inteligência em Agronegócio

O avanço do novo coronavírus no Brasil e no mundo beneficiou algumas culturas agrícolas no país. De acordo com levantamento da consultoria Cogo – Inteligência em Agronegócio, nove delas tiveram resultados positivos na semana. No entanto, outras culturas, como açúcar, etanol, lácteo, e de frutas, legumes e verduras foram impactadas negativamente. Confira alguns destaques do relatório da empresa!

Soja: China volta a demandar mais

Em relatório o analista de mercado Carlos Cogo ressalta que mesmo com os recuos de preços da soja na Bolsa de Chicago (CBOT), os valores em reais seguem em alta, com a forte valorização do dólar. Essa elevação da moeda norte-americana ajudou os embarques do grão. As exportações em março estão estimadas em 13 milhões de toneladas, o que representaria, se confirmado, um incremento de 154% sobre fevereiro de 2019 e de 54% sobre o mesmo mês do ano passado.

De acordo com a empresa, a colheita da safra tem grande volume neste mês e não há, até agora, sinais de retração na demanda em virtude dos problemas com o surto do coronavírus. “A China está voltando a demandar mais e as importações do país cresceram 14,2% no 1º bimestre de 2020 ante o mesmo período do ano passado”, disse. Com isso, as importações da China seguem concentradas no Brasil.

Milho: diminuição na exportação, mas expectativa de alta no preço

A média diária de exportações em março é de 34,55 mil toneladas, incremento de 79,6% em relação à média de fevereiro deste ano, mas retração de 20,6% na comparação com a média de março de 2019.  Para 2020, a previsão de exportações brasileiras de milho é de 34 milhões de toneladas, bem abaixo das 41,1 milhões de toneladas embarcadas no ano passado.

A consultoria ressalta que essa redução não tem correlação com a pandemia do coronavírus. Essa queda ocorre por conta da redução dos estoques de passagem de 2019 para 2020, da menor oferta interna prevista para 2020 e, principalmente, devido à forte alta dos preços do grão no interior do país, que permanecem acima da paridade de
exportação nos portos brasileiros.

Já os preços do milho seguem em alta na maior parte das regiões. O indicador Esaq/BM&F acumula altas de 15,1% nos últimos 30 dias e de expressivos 52,8% nos últimos 12 meses, fechando a sexta, 27, cotado a R$ 59,50 por saca – o maior patamar nominal da série histórica

O movimento é sustentado pela retração de vendedores, que têm perspectiva de que os valores continuem avançando nas próximas semanas, fundamentados nos estoques baixos e na menor oferta da safra de verão 2019/2020.

Além da menor presença de vendedores, o ritmo de negociação nos últimos dias está limitado pelas incertezas quanto às possíveis restrições na circulação de mercadorias, diante das medidas de controle da pandemia do coronavírus.

Café: preços em alta

Os preços do café tiveram fortes altas no mercado internacional o que, combinado, com a alta do dólar, resultou em elevações expressivas das cotações no Brasil.

As cotações do arábica no Brasil finalizaram a sexta com expressiva baixa, com o indicador Cepea/Esalq do arábica tipo 6, bebida dura para melhor, posto em São Paulo, fechando a R$ 566,67 por saca. Entretanto, o produto acumula uma expressiva alta de 17,6% nos últimos 30 dias e de 42,2% nos últimos 12 meses.

Boi: China voltando às compras e demanda interna aquecida

As carnes ainda acumulam fortes ganhos no mercado brasileiro. Nos últimos 30 dias, o preço médio do boi gordo acumula uma alta de 2,4%, o do frango vivo, de 0,9%, e o do suíno vivo, de 5,9%. Nos últimos 12 meses, o preço médio do boi gordo subiu 32,1%, o do suíno vivo, 44,3%, e o do frango vivo, apenas 0,6%.

A oferta limitada de bovinos para abate e a demanda mais aquecida por carne no atacado estão elevando os preços em várias regiões do país. Ao mesmo tempo em que varejistas buscam repor produtos nas gôndolas, depois
do aumento das vendas nos últimos dias, reflexo da crise do coronavírus, as indústrias trabalham com escalas curtas e têm dificuldades de comprar lotes maiores.

Além do aumento da demanda doméstica, informações sobre a volta da China às compras também dão sustentação aos preços do boi gordo.

Em São Paulo, o boi gordo está cotado a R$ 201,15 por arroba à prazo, mas a disponibilidade restrita faz com que muitos frigoríficos indiquem preços mais altos para completar as escalas de curto prazo.

Leite: preço deve ter alta em março; demanda por iogurtes e queijos deve cair

A consultoria Cogo afirma que a disputa entre indústrias para assegurar a compra de leite vem sustentando as cotações ao produtor em altos patamares durante este trimestre. O preço pago ao produtor em março (referente à captação de fevereiro) deve registrar nova elevação, ainda que menos intensa que nos meses anteriores.

“A menor disponibilidade de leite em período sazonal (que seria de safra e maior oferta) decorre da instabilidade climática e fortes variações nos regimes de chuvas”, explica.

No entanto, a pressão de atacadistas e varejistas tem limitado a valorização dos derivados e há dificuldade em repassar reajustes do leite aos derivados. No segmento de lácteos e derivados, como iogurtes e queijos, deverá haver uma contração do consumo pela perda de empregos e menor circulação das pessoas, motivados pelo coronavírus.

Frutas, legumes e verduras: demanda em queda e dificuldade no escoamento

Devido às recomendações de isolamento social e quarentena, o segmento de frutas, legumes e verduras têm enfrentado demanda bastante reduzida ao longo da semana, tanto no varejo quanto nas áreas produtoras. Sem grande giro de vendas no comércio, os compradores estão receosos em manter os pedidos no campo, já que sobras de mercadorias podem causar perdas.

Outro problema relatado pelos agentes é o frete: além da redução nos pedidos, alguns produtores que ainda precisam atender clientes estão com dificuldades em escoar sua produção aos centros consumidores por falta de transporte, como está ocorrendo nas regiões de Caçador (SC) e Venda Nova do Imigrante (ES), áreas tradicionalmente produtoras de tomate.

“Muitas redes de supermercados anteciparam compras, mas momento é de apreensão, pois esse aquecimento na demanda deve ser apenas momentâneo, com a paralisação das escolas – a merenda escolar representa uma parcela expressiva da demanda”, alerta o consultor Carlos Cogo.

A expectativa da empresa é que os produtos mais perecíveis devem sofrer com a queda de consumo, com consumidores priorizando alimentos com maior durabilidade.Impactos maiores para tomate, folhosas e menor para batata, cebola e cenoura.