Cotação em alta anima produtor de soja do Sul do Brasil

Expectativa é de aumento da área de plantio do grão no Rio Grande do SulDepois da estiagem que devastou metade das lavouras de soja no Rio Grande do Sul, os produtores gaúchos recebem uma notícia alentadora para a próxima safra. A alta cotação do bushel (medida americana equivalente a 27,2 quilos) do grão anima o setor.

O preço da soja alcançou a cotação máxima de US$ 16,79 na segunda, dia 9, na Bolsa de Mercadorias de Chicago, e fechou em US$ 16,65. Na terça, recuou um pouco, para US$ 16,48. O presidente interino da Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja/RS), Pedro Reus Nardes, projeta que a área de plantio será ampliada. Os agricultores estão descapitalizados, em razão da quebra de safra, mas investirão na próxima colheita para iniciar a recuperação dos prejuízos.

– O preço internacional é uma loucura – destaca Nardes, representando 350 mil produtores gaúchos.

A cotação recorde foi causada pela escassez da soja. Além do Rio Grande do Sul e de parte do Brasil, a estiagem castigou a Argentina (terceiro produtor mundial), o Paraguai e agora aflige os Estados Unidos (primeiro lugar). O analista de mercado Farias Toigo, da Capital Corretora, diz que o agricultor que conseguiu estocar soja agora está vendendo como nunca. A saca de 60 quilos já está em R$ 76.

– Uma pena que são poucos – lamenta Toigo.

Se o clima ajudar na próxima safra e a cotação se mantiver nas alturas, a soja voltará a mover a economia. Rodrigo Feix, da Fundação de Economia e Estatística (FEE), lembra que o grão representou 20% do Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária gaúcha em 2011. Nas exportações, o complexo soja (grãos, farelo, óleo e derivados) respondeu por 24% das remessas do Estado, faturando US$ 4,7 bilhões.

– A soja é o principal produto agrícola, tem um efeito encadeado sobre outras atividades – ressalta o economista da FEE.

Se a colheita da soja é farta e rentável, também são beneficiados os setores de fertilizantes, máquinas agrícolas, o comércio das cidades, a arrecadação de impostos pelas prefeituras, a indústria do ramo e a oferta de empregos. Economista da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz entende que o agricultor deve aproveitar o momento. Mas sugere que, além do clima, preste atenção às cotações.

PERSPECTIVA DE RETOMADA
O que pode ocorrer no Rio Grande do Sul se a próxima safra de soja for exitosa e a cotação do bushel se mantiver alta:

Lavoura
A área de plantio deve aumentar. A Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja/RS) diz que não há mais regiões disponíveis para ampliar a agricultura no Estado. A tendência é de que haja uma diminuição nas lavouras de milho e arroz, principalmente, para acomodar a expansão da soja. Ao mesmo tempo, deve crescer a contratação de trabalhadores rurais para o preparo do solo, a semeadura e a colheita.

Máquinas
A expansão das lavouras de soja deve reverter em maior venda de tratores e colheitadeiras. O presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers), Claudio Bier, destaca que o setor, como está ligado ao campo, certamente será beneficiado. O Estado produz 60% das máquinas agrícolas do país. O ramo de insumos, fertilizantes e agrotóxicos também será contemplado.

PIB
O PIB agropecuário deste ano cairá, em razão da estiagem, mas ainda não se pode dimensionar o impacto. Se a próxima safra de soja vingar, a expectativa é de que o PIB agropecuário retome pelo menos o patamar de 2011, quando chegou a 18,8% – acima do PIB gaúcho, que ficou nos 5,7%. A soja corresponde a 20% do PIB agropecuário. E respondeu por 24% das exportações totais do Rio Grande do Sul, em 2011.

Consumidor
A valorização da soja deve se refletir no aumento da cesta de alimentos. Repercutirá diretamente no preço do óleo de cozinha. E indiretamente no preço das carnes de suíno e frango, pois a ração animal contém farelo de soja. No entanto, a Fundação de Economia e Estatística (FEE) diz que o impacto pode não ser significativo, por causa do peso da alimentação no orçamento familiar. O preço final dependerá dos custos das indústrias.