Em um dia em que quase todos os contratos fecharam acima dos US$ 10 por bushel, dólar se desvalorizou mais uma vez e complicou a vida dos brasileiros
Daniel Popov, de São Paulo
A maioria dos analistas ouvidos pelo Soja Brasil disseram que este ano seria bem mais complicado para a comercialização da soja, do que os anteriores. O conselho, desde o início, é ficar de olho na cotação, mas também no câmbio. Pois bem, as cotações da oleaginosa estão conseguindo se manter próximas a US$ 10 por bushel, o que é bom. Mas, a situação para o produtor não está tão favorável assim, justamente por conta do dólar, que vem caindo dia após dia.
Vamos a um exemplo: no dia 6 de julho, a soja estava cotada em Chicago, contrato de agosto 2017 a US$ 21,73 por saca, que convertendo pelo dólar daquele dia (R$ 3,30), o produtor ganharia R$ 70,5 por saca. Hoje, dia 19 de julho, a cotação da soja, no mesmo contrato de referencia, foi negociada a US$ 22,04, convertendo a um dólar de R$ 3,15, a saca saia por R$ 69,4. “Daí a necessidade de se avaliar os dois itens periodicamente. Pois, o preço pode até parecer alto, mas convertendo a este câmbio baixo, o preço está menos atrativo”, comenta o analista Luiz Fernando Gutierrez, da Safras & Mercado.
Desde o dia 6, até hoje, o dólar se desvalorizou 4,50%, de R$ 3,30, para R$ 3,15. Já a cotação da soja, apesar de ter chegado a US$ 22,70 por saca (equivalente a US$ 10,29 por bushel), oscilou bastante no período e fechou hoje com uma alta de 1,42%, ante o dia 6.
Para o analista da Safras & Mercado Gil Barabach, que apresentará uma palestra sobre o assunto no 1º Fórum Soja Brasil da temporada 2017/2018, que acontecerá em Ituverava (SP), no dia 21 de julho, estas situações políticas complicadas que afetam tanto o Brasil quanto os Estados Unidos, assim como algumas questões econômicas, afetam o câmbio. “Todos esperavam que o Donald Trump elevaria os juros, por exemplo e isso não aconteceu, o que ajudou a desvalorizar o dólar”, comenta ele. “Se aqui no Brasil, a reforma trabalhista não fosse aprovada, por exemplo, poderíamos ter um câmbio diferente.”
Gutierrez explica que as questões internas do Brasil, de fato, estão pesando sobre o câmbio, trazendo valorização ao Real. A aprovação da reforma trabalhista e a possível prisão e inelegibilidade de Lula (que pode alterar de forma importante o quadro político para a eleição presidencial de 2018) têm sido determinantes, nas últimas semanas, para a queda do dólar frente à moeda brasileira.
Externamente, pesa também o novo posicionamento do Federal Reserve frente à elevação da taxa de juros nos EUA, que deve ser feita de forma mais lenta a partir de agora, o que favorece a permanência de dólares no Brasil. “Todos estes fatores estão pesando sobre o câmbio, e podem manter o mesmo pressionado no curto-prazo. Neste momento, resta “apenas” a turbulência política e possíveis novidades sobre a operação Lava-Jato como fator de sustentação para a moeda norte-americana, visto toda a incerteza que estes fatores trazem ao mercado”, comenta Luiz Fernando Gutierrez.
Ambos os analista recomendam que os produtores devem olhar diariamente as cotações e tentar fatiar as vendas sempre que esta relação for favorável para o preço. “Ir vendendo aos poucos, fazendo o que chamamos de média, é a melhor saída”, finaliza Gutierrez.