Cresce investimento brasileiro em cavalos de sangue argentino

Criadores adotam nova tendência da raça crioulaA febre pelos chilenos não é mais a mesma. Buscar essa genética já consagrada não deixou de ser uma prática, mas a nova tendência da raça crioula é comprar cavalos na Argentina. Aliás, os melhores encontrados por lá. Grandes importações foram feitas recentemente. Negócios milionários com cifras não reveladas pelos compradores que, segundo especialistas, podem mudar o cenário da raça no país nos próximos anos.

Pode-se dizer que há uma certa retomada do trabalho feito no início do desenvolvimento do cavalo crioulo em solo brasileiro, quando a procura era por exemplares argentinos e uruguaios. Estratégia, entretanto, que acabou diminuindo significativamente nos últimos 30 anos em razão dos chilenos.

Quem vem comprando dos hermanos, agora, garante que busca a renovação de plantel para evitar problemas de consangüinidade, como deformações esqueléticas e alterações de temperamento, que se tornaram cada vez mais comuns nos criatórios nacionais por causa do reduzido número de linhagens.

Atualmente, dominam a raça no Brasil linhagens chilenas como Hornero, Taco e Estribillo. Mas, além de sangue novo, a procura em território argentino vai além. A excelente morfologia dos animais, que aliada à funcionalidade característica dos crioulos do Chile, resulta no biotipo de cavalo que se quer no Brasil.

? Eu fui atrás de selo racial e de estrutura óssea ? diz Mariano Lemanski, da Cabanha São Rafael, de Balsa Nova (PR).

O criador paranaense escolheu um bigrande campeão de Palermo, a maior exposição morfológica da Argentina. Del Oeste Mutante é filho de Guampa Buho, também grande campeão de Palermo. Felipe Juan Ballester, da Cabanha La Esperanza, na província de Buenos Aires, abriu mão do reprodutor após algumas tentativas de compra de outros criadores brasileiros.

Também um grande reprodutor argentino era sonho de consumo de um criador brasileiro há mais tempo. Em 1999, surgiu o interesse de Francisco Martins Bastos Sobrinho, da Cabanha do Barulho, de Barra do Quarai (RS), por Charque Lindo Nene. A realização só foi possível nove anos depois, porque o proprietário Felipe Alberto Ballester, da Cabanha La Valentina e um dos mais renomados crioulistas argentinos, teve a idéia de montar um criatório com qualidade semelhante no Brasil.

A sociedade, firmada há pouco mais de dois meses com o nome Três Patrões, ainda inclui Washington Umberto Cinel, titular da Cabanha São João, de Barra do Quaraí. Com a posse de cota de 50% do animal (os outros dois integrantes da parceria têm 25% cada), é o criatório de Cinel que abriga Lindo Nene. O cavalo é consagrado reprodutor na Argentina. O mais ranqueado morfologicamente naquele país, pai de mais de 40 animais premiados em Palermo, mas também de uma campeã do rodeio nacional, conforme Bastos:

? Lindo Nene deve contribuir muito para a raça crioula aqui no país. Em morfologia principalmente, mas também em função.

Foi com objetivos semelhantes, de renovação e desenvolvimento da raça, que Renato e Osvaldo Vacinaletti, da Cabanha Mapuche, de Pomerode (SC) e Tijucas do Sul (PR), buscaram San Pedro Cauquen. O negócio foi fechado no fim do ano passado, com a Estância La Brava, de Mar del Plata. Os proprietários não quiseram falar em valores, assim como os demais criadores que estão investindo pesado no sangue argentino.

Cauquen, com três quartos de sangue chileno, também é grande campeão de Palermo, da Exposição de Outono em 2003. Apesar de reunir importantes sangues funcionais chilenos, a aquisição representa para o criatório a busca pela boa morfologia.

? Com a entrada indiscriminada dos chilenos, ela foi se perdendo ? diz Renato.

Atenção redobrada

O superintendente do Serviço de Registro Genealógico da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos, Gilberto Loureiro de Souza, é a favor da abertura de sangue. Para isso, o especialista argumenta que, na história do Freio de Ouro, prova que é hoje a maior ferramenta de seleção da raça crioula, nunca houve um indivíduo consangüíneo campeão. Ou seja, que reunisse a mesma linhagem tanto na veia materna quanto paterna.

Em contrapartida, Souza faz um alerta importante aos criadores. Para o superintendente, quem busca no país vizinho apenas características morfológicas precisa ficar atento:

? É arriscado comprar no escuro, sem que sejam comprovadas as performances funcionais da linhagem ou do próprio animal que está sendo importado.