Crise das usinas chega às empresas que dependem do setor sucroenergético

Na região de Ribeirão Preto e Sertãozinho, endividamento das empresas do setor aumentou em quase 8% nos últimos anosEm Sertãozinho, no interior de São Paulo, o comércio já sente a diminuição no faturamento de quem mais depende da demanda gerada pelas usinas. Pessimistas com o mercado, devido a crise que já vem se arrastando nos últimos quatro anos, produtores de cana-de-açúcar e indústrias seguraram investimentos e, consequentemente, deixaram de movimentar outras cadeias produtivas.

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O período atual é de entressafra, geralmente aproveitado pelas empresas para realizarem a manutenção dos equipamentos usados e das usinas, bem como compra de novos equipamentos. Mas o cenário é outro neste momento. Em crise há pelo menos quatro anos, o setor sucroalcooleiro vem definhando e não traz mais segurança para os empresários permanecerem investindo.

O diretor da usina Viralcool, Antonio Eduardo Tonielo Filho, diz que não vê solução, pois não há estimulo para em investir nas usinas. De acordo com Tonielo Filho, o endividamento aumentou em quase 8% nos últimos anos, índice que não foi acompanhado nem em produção nem em ampliação de parque industrial.

Diante do cenário de instabilidade do mercado de álcool, muitas indústrias passaram a direcionar a produção para o açúcar nos últimos três anos, o que fez com que os preços caíssem aos piores níveis dos últimos 13 anos, dificultando ainda mais a situação das usinas. De acordo com Tonielo Filho, isto acontece porque as empresas não com seguiram ter rentabilidade com o etanol. Com isso o aumento da produção de açúcar, a saca chegou a R$ 40, metade do que valor praticado em 2006 e 2007.

Apesar do preço de revenda ter caído pela metade, o custo de produção permaneceu subindo, levando junto a margem de lucro das indústrias sucroalcooleiras e trazendo mais problemas para os empresários.

– Os custos aumentaram muito, como adequação trabalhista, que mudou muito; adequação ambiental, que também custa muito caro. E também há os custos dos adubos, que são atrelados ao dólar – diz o diretor da usina Viralcool.

Em junho de 2013, o repórter do Canal Rural Daniel Morales já constatava a situação crítica do setor nesta região, mostrando as ruínas de empresas que não suportaram a crise e que fecharam as portas, deixando para trás dívidas, desemprego e incertezas no mercado. Sem uma política bem definida para o estímulo do etanol no Brasil, os produtores e industriais, se veem sem saída.

Nove meses depois, a situação só piora, e, mesmo com as reivindicações dos produtores, as dívidas permanecem se acumulando. A consequência foi a redução de investimentos em todos os setores, o que provocou uma avalanche de problemas em empresas que dependem das usinas.

O empresário Roberto Gomides abriu sua fábrica de equipamentos voltados para a indústria sucroalcooleira há 25 anos. Ele presenciou muitas fases ruins do setor, mas diz que nunca viu uma como a crise atual. A alternativa encontrada pelo empresário foi direcionar a produção para equipamentos de outras culturas. As ferramentas e a manutenção que eram feitas pela indústria da cana-de-açúcar já não são as mesmas. Além da menor demanda, ele agora lida também com pedidos de recuperação judiciais dos antigos compradores.

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Segundo o secretário de Indústria e Comércio de Sertãozinho, Carlos Roberto Liboni, as usinas têm procurado investir em outros setores e deixam de irrigar toda a cadeia produtiva sucroenergética. Os setores da indústria e de serviços em Sertãozinho e Ribeirão Preto, a região mais importante para o setor sucroalcooleiro do Brasil, já dão sinais de encolhimento e os problemas afetam diretamente o faturamento das empresas que dependem da cultura da cana-de-açúcar.
 
Sem avistar perspectivas, o setor espera políticas públicas semelhantes às que foram criadas para a gasolina, com o objetivo de dar fôlego às indústrias e aos produtores, que estão beirando a falência ou já pediram recuperação judicial.

Conforme o coordenador da GV Agro Roberto Rodrigues, as medidas emergenciais que o governo poderia tomar incluem a renegociação das dívidas, maior mistura do etanol e incentivo ao uso do álcool na indústria automotiva.

– Há uma informação que quase 50% do faturamento bruto está comprometido por dívida.  O governo tem insistido que falta tecnologia, mas falta investimento para isso acontecer – diz Rodrigues.

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