A crise atingiu muito o setor do agronegócio, e para as empresas exportadoras a situação foi mais complicada. O reflexo fica nítido quando se observam os dados apresentados pela Serasa Experian. De janeiro a maio foram 334 pedidos de recuperação judicial, contra 114 no mesmo período do ano passado. A maior concentração está no agronegócio: 18 frigoríficos, 11 produtores agrícolas e 10 usinas.
Os motivos que levaram as empresas do agronegócio a recorrerem aos pedidos de recuperação judicial foram muitos. No caso das usinas de açúcar e álcool, antes da crise o cenário para investimentos era favorável: o preço do petróleo estava em alta e a demanda por etanol era crescente no mercado externo. Essas companhias que estavam investindo se depararam com a falta de liquidez e dificuldade de acesso ao crédito com a chegada da crise. Os frigoríficos também entraram em dificuldade, mas principalmente em função da queda da demanda internacional.
Com a dificuldade financeira de alguns frigoríficos e algumas usinas, ocorreram dois processos: a fusão e a aquisição. Para o coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Rodrigues, a concentração é um processo natural do mundo globalizado e consequentemente a internacionalização também acontece.
? Se é bom para o setor? Depende de como vão se comportar as usinas concentradas. Se pagarem adequadamente os fornecedores de cana ? como não estão fazendo hoje todas as usinas ? se o setor tiver equilíbrio e, sobretudo, se essas novas empresas tiverem a competência de estabelecer uma estratégia para o setor de longo prazo, negociando estratégia com o governo, sem dúvida será bom ? afirma Rodrigues.
Especialistas acreditam que as empresas do setor agrícola já estão se ajustando e podem esperar uma melhora financeira, principalmente para as companhias que começaram a atuar mais no mercado interno.
? O mercado interno sinaliza uma recuperação. A partir do segundo semestre, a economia brasileira deve experimentar um ritmo de crescimento superior ao que a gente vem experimentando no primeiro semestre. Então, o cenário no mercado interno é de melhoria para essas empresas e a recuperação no cenário externo já está acontecendo, mas de forma mais lenta ? diz Laércio de Oliveira Pinto, presidente da Unidade de Negócios Pessoa Jurídica Serasa Experian.
Para uma empresa entrar com o processo de recuperação judicial, ela deve apresentar um plano em até 60 dias para que o negócio continue funcionando. Este plano deve ser aprovado pela Justiça e credores, para que então a companhia consiga renegociar débitos. A nova lei de recuperação judicial é de 2005, mas conforme Carlos Henrique Abrão, juiz de direito titular em São Paulo, com a crise a lei ficou antiga.
? Acessibilidade da lei a todos aqueles que hoje estão em estado de crise, principalmente para as empresas do Centro-oeste, seria o ideal para o agronegócio e também para alguns setores que foram impactados. Em outros, o governo tem liberado IPI, tem feito concessões, mas existem também as pequenas e médias empresas que não estão sendo vistas com bons olhos e na lei atual elas foram completamente esquecidas ? diz Abrão.
Nesta segunda, dia 29, o Instituto Nacional de Recuperação Empresarial abriu inscrições para associados. A idéia principal do instituto é aprimorar a legislação vigente.
? Ajudar na discussão de temas controversos para facilitar decisões do poder judiciário, enfim, procurar institucionalmente ajudar a recuperação judicial das empresas tanto na legislação, quanto no processo ? afirma Keyler Carvalho Rocha, presidente do Inre.
Economistas explicaram do que depende o sucesso de uma empresa que entrou com pedido de recuperação judicial.
? Primeiro, um plano de negócios realista. Olhar bem quais são as chances de sucesso, onde que ela tem vantagens competitivas, onde ela perde dinheiro. Descartar tudo que não dá, que não acrescenta valor. Como ela pode conseguir mais valor por si própria se juntando a outra empresa para conseguir fazer escala. Então, primeiro fazendo uma boa análise, segundo fazendo acontecer ? destaca o economista Roberto Troster.