Crise financeira deve adiar investimentos do setor sucroalcooleiro

Das 35 usinas que estavam previstas para entrar em funcionamento este ano, apenas 23 iniciaram as atividadesDepois de dois anos de uma crise interna traduzida principalmente em baixa remuneração, o setor sucroalcooleiro enfrenta um momento de redução ou adiamento de investimentos. O que agravou a situação foi o cenário financeiro internacional.

Das 35 usinas que estavam previstas para entrar em funcionamento este ano, apenas 23 iniciaram as atividades. E o recuo dos investimentos não afeta somente empresas de menor porte. O maior grupo de açúcar e álcool do Brasil também sente os reflexos da crise financeira internacional, R$ 2,5 bilhões foram investidos para adaptar nove usinas do grupo Cosan para realizar co-geração de energia.

? Muitas usinas que entraram com projetos no BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] não estão conseguindo a liberação de financiamentos. Recentemente vendemos nossa energia através de leilão, e, para dar continuidade a esse processo, vamos depender muito da política da instituição ? explica o vice-presidente da Cosan, Pedro Mizutani.

De acordo com ele, se o BNDES não for em frente com a liberação de crédito a Cosan deverá adiar alguns projetos ou desacelerar projetos de co-geração.

Aliás, o adiamento de projetos deve ser uma tendência no setor em 2009 e 2010. É o que afirma o diretor-presidente da consultoria Datagro. Segundo Plínio Nastari, isso se deve principalmente aos problemas de liquidez e crédito.

? À falta de crédito e ao custo do crédito mais elevado. Esse custo passou de uma faixa de 6% a 8% ao ano para 20% a 23% ao ano, o que é um nível que é difícil de ser suportado em qualquer atividade econômica ? acrescenta Nastari.

Além da revisão dos investimentos para 2009, outra tendência deverá ser observada no setor sucroalcooleiro na próxima safra: cada vez mais usinas e grupos deverão se unir em busca de sobrevivência em meio a crise.

? Essa situação deve levar a um aumento da velocidade de parcerias e de alianças estratégicas dos grupos nacionais entre si e com grupos estrangeiros. Existe um potencial muito grande desse movimento se acelerar e de o processo de consolidação no setor prosseguir nos próximos dois anos ? diz Nastari.

E enquanto o setor se une para enfrentar a crise, o governo não dá sinais de auxílio com recursos. Conforme o secretário de Agroenergia do Ministério da Agricultura, o setor energético não é prioridade no momento.

A vida continua e com crise ou sem crise o consumo vai ocorrer. O governo deve olhar com bons olhos esse fato, mas, no momento atual, a prioridade sem dúvida é a produção de alimentos ? afirma Manoel Bertone.