Preço pago pelo grão está muito abaixo do normal e país não tem negócios com a China para ganhar com o prêmio de exportação. Sojicultores relatam angústia atual, veja fotos e vídeos!
Daniel Popov, de São Paulo
O clima atrapalhou e frustrou a safra brasileira de soja. O mesmo aconteceu com o vizinho Paraguai. Por lá algumas entidades já falam em perdas de até 30%, o que renderia uma colheita de no máximo 7,2 milhões de toneladas. Mas outras acreditam na perspectiva de uma redução na ordem de 15%, ou seja, 8,75 milhões de toneladas. Mas até mesmo as entidades oficiais de produtores acreditam que esse total possa crescer ainda mais. Outro problema é que por lá as sacas são negociadas em dólar, o patamar atual é considerado muito baixo para rentabilizar os produtores e o governo já fala até em renegociação de dívidas.
Na fazenda do brasiguaio Eugênio Sefstron, no município de Caazapa, alguns talhões chegaram a ficar mais de 20 dias sem receber uma gota d’água sequer, sob temperaturas acima de 42°C. Nem é preciso terminar a história para deduzir o que aconteceu com as plantas de soja. “Esse ano foi bem complicado pra gente em produtividade. Partes colhemos uma média boa de 50 sacas por hectare, mas em alguns talhões colhemos quase nada, menos de 27 sacas, no máximo. No geral estou colhendo bem menos que a safra passada”, relata.
Ele colheu aproximadamente 60% da área de 950 hectares que semeou e, além da menor quantidade, os grãos que estão saindo do campo estão em péssima qualidade, como é possível notar nas imagens e vídeos que ele enviou. “Faltou água no começo e agora está chovendo durante a colheita. Os grãos praticamente apodreceram, não sei o que fazer mais, minhas máquinas estão lá paradas esperando as chuvas pararem e a soja segue apodrecendo no campo”, lamenta Sefstron.
Segundo o presidente de uma entidade que levanta dados sobre agricultura no país, a Unión de Gremios de la Producción del Paraguay (UGP), Héctor Cristaldo, a quebra deve ser inicialmente de 15% dos 3,5 milhões de hectares plantados. Mas ele não descarta que a quebra possa ficar ainda maior. “Dependendo da região a quebra é bem maior, como no Norte do país. Esperávamos uma colheita de 10,3 milhões de toneladas, mas agora acho bem difícil chegar a 9 milhões”, afirma Cristaldo.
Outro produtor, Antonio Galhera, que também é representante de uma entidade de produtores de soja, a Asociación de Productores de Soja, Oleaginosas y Cereales del Paraguay (APS), acredita que as perdas totais serão de pelo menos o dobro, chegando a 30% no país. “
“Na nossas áreas a perda não será de 30%, mas será grande, sim. Apostamos em culturas como a canola e o trigo antes da soja e a palhada foi boa para segurar o tempo sem água. Além de a soja mais tardia ter conseguido chuva suficiente para se recuperar. Muito amigos que tem produções menores e plantaram tudo no cedo, tiveram perdas graves, tem gente que perdeu tudo”, garante.
Independente de discordarem do volume total a ser colhidos tanto os produtores, quanto Cristaldo, estão preocupado agora com a comercialização. “Esse ano os produtores terão um golpe duplo, quebra na produção e preços pouco rentáveis. Não está fácil”, comenta o presidente da UGP.
Preços baixos e nada de compradores
As cotações da soja na Bolsa de Chicago, que servem como referência para outros países, não estão tão atrativas para quem opera em dólar. No Brasil há a vantagem do prêmio pago nos portos que acaba compensando um pouco essa baixa nos valores. Entretanto, pelo que explicaram os paraguaios, por lá a situação é diferente.
Segundo Cristaldo, o país não tem relações comerciais com a China, maior compradora do grão e portanto não há tanto procura e nem prêmios a serem pagos pelo produto que chega no porto. Com isso, um preço baixo me Chicago, significa ainda menos no Paraguai, já que são abatidos os custos de transporte.
“As vendas de soja estão praticamente paradas devido os preços baixos. Só alguns desesperados acabam indo vender por não ter outra alternativa”, diz o presidente da UGP.
Atualmente estão pagando US$ 270 por tonelada de soja no Paraguai, sendo que o mínimo para rentabilizar os produtores seria de US$ 300 a US$ 310. “Desse valor ainda abatem quase US$ 50 com custo de frete. Então recebemos no máximo US$ 230 por tonelada”, conta o produtor Sefstron.
Ele relembra que gastou uma média de US$ 370 por hectare para semear a soja e agora está colhendo uma média de 2,5 toneladas por hectare. Se vendesse a soja pelos atuais US$ 270 por tonelada, abatendo ainda o custo de transporte US$ 50 por tonelada (125 total pelas 2,5 toneladas), sobra no final no máximo US$ 180 por hectare, para pagar o arrendamento, pessoal e investimento na nova safra. Ou seja, não sobra nada e se bobear ainda falta.
“Aqui no Paraguai vendemos em dólar e está bem complicado. Isso está matando a gente, não estamos tendo lucro. Fora que não temos nenhum seguro nem nada, se colher colheu, senão é prejuízo. Não temos linhas de financiamentos, então estamos sem dinheiro e sem safra”, conta Sefstron.
Governo promete ajuda
A situação da sojicultura do país, fez com que o Ministro da Agricultura do Paraguai, Denis Lichi Ayala, e o vice presidente da república do país, Hugo Velázquez, visitassem algumas lavouras para ver de perto a situação.
Uma delas foi justamente a da família Galhera, no município de Hernandarias. Durante o encontro que aconteceu na última quinta-feira, dia 21, os representantes do governo disseram aos presentes que tentariam viabilizar medidas para ajudar os produtores. “Eles disseram que estão vendo medidas para flexibilizar o pagamentos de dívidas desta safra, para os produtores que não conseguem pagar as dívidas da soja”, relembra Antonio Galhera.