Crise do setor sucroenergético deixa produtores sem pagamento em São Paulo

Descapitalizadas, algumas usinas não estão pagando nem pela cana-de-açúcar, nem pela terra arrendada de alguns produtoresA crise do setor sucroenergético ganhou mais um capítulo no interior de São Paulo. Descapitalizadas, algumas usinas não estão pagando pela terra arrendada e nem pela cana-de-açúcar comprada dos produtores. Em alguns casos, o atraso é de quase um ano. Além de não receber pela temporada passada, os agricultores estão sem dinheiro para investir na próxima safra.

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O sindicato rural do município de Boituva virou o endereço mais frequentado pelos agricultores nos últimos tempos. O que reúne todos é a busca pela solução de mais um problema que passou a fazer parte do dia a dia deles: o atraso do pagamento das usinas. Vladimir José Provasi está há três meses sem receber pelo arrendamento de 245 hectares. Quando começou a arrendar a terra há 10 anos, achou que era um bom negócio. Opinião que começou a mudar nos últimos dias.

– Eu tenho conta pra pagar e tenho que preservar meu nome – reclama Provasi, que complementa sua produção com a criação de 200 cabeças de gado.

Mesmo assim, a descapitalizado provocada pela falta de pagamento é um problema sério, pois o produtor não consegue investir o que gostaria e não tem nem previsão de quando terá a dívida quitada pela usina.

– Nos chamaram pra conversar e disseram que infelizmente não têm dinheiro em caixa pra pagar o arrendamento. Eles mostraram até o cheque pronto, dizendo que a intenção é pagar. Agora a gente tem que torcer pra eles, porque se a usina fechar, é ruim pra todo mundo – avalia o produtor rural.

Além dos produtores que arrendam as terras, quem produz e vende cana nas usinas também está há muitos meses sem receber. O produtor Eduardo Batistella, por exemplo, ainda está esperando o pagamento das 1,7 mil toneladas entregues em novembro do ano passado.

– A gente vive do dinheiro da cana e só tem essa produção. Como vamos tocar a lavoura deste ano sem receber? Falta receber em torno de 30% da lavoura de 2013, sem isso, não tem como fazer os tratos culturais da lavoura – diz Batistella.

A dívida chega a R$ 150 mil. Segundo Batistella, a usina garantiu que pretende pagar a conta, mas está sem dinheiro.

– Eu já vendi esta cana pra receber à vista e ainda não recebi. Eles falam que vão pagar, mas está difícil porque eles também não estão recebendo.

Na região de Boituva, 90% dos produtores trabalham direta ou indiretamente com cana – e a maioria está na mesma situação. O sindicato vem ajudando nas negociações com a única usina da cidade, a Santa Rosa.

– Eles estão cientes que devem para os produtores e também não negam que vão pagar. O objetivo deles é ir pagando conforme a entrada da cana. Eles de jeito nenhum negam e nunca negaram que vão pagar os produtores – diz o presidente do Sindicato Rural de Boituva, Mauro Sartoreli.

Nossa reportagem entrou em contato com representantes da Usina Santa Rosa, mas ninguém foi encontrado.

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