Crise na zona do euro não deve provocar os mesmos efeitos de 2008, diz Gustavo Franco

Ex-presidente do Banco Central acredita que país não deve reviver a crise ocorrida nos Estados UnidosA crise financeira que atinge a zona do euro não deve provocar os mesmos efeitos da crise ocorrida em 2008 nos Estados Unidos. Foi o que afirmou nesta quarta, dia 7, o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, durante um evento em São Paulo. Apesar disso, analistas afirmam que os produtores rurais precisam estar atentos à comercialização da safra.

Que a crise na zona do euro já está afetando Brasil, isso ninguém nega. A estagnação da economia do país no terceiro trimestre, apontado pelo crescimento zero do PIB no período, é um dos reflexos disso. Porém, segundo o ex-presidente do Banco Central não vamos reviver uma crise nos moldes da de 2008.

– Já está tendo seus efeitos, porém é muito diferente da situação de 2008. Acho até pouco provável que nós tenhamos um episódio de stress agudo como o de 2008, causando corrida bancária, apreensão das pessoas. Acho que estamos em situação diferente, são países tendo problemas para arrumar a sua casa. O Brasil passou por situações parecidas no passado – relata Franco.

Até agora, o principal efeito da crise no agronegócio foi a queda das cotações das commodities. A saída de fundos de investimentos do mercado futuro é apontada como uma das principais causas, já que os fundamentos de oferta e demanda continuam firmes. Segundo o analista de mercado Pedro Dejneka, mesmo com as quedas, os preços estão em patamares historicamente altos e devem permanecer assim nos próximos meses.

– Então os fundos tem saído recentemente e hoje estamos em um mercado sem faísca. Precisamos de alguma coisa para atrair os fundos especulativos de volta ao mercado para ver os preços subindo novamente. Isso pode ser um choque de produção, uma queda na produtividade ou uma alta inesperada na demanda mundial, o que não vai acontecer no curto prazo.

Gustavo Franco aponta que uma recuperação da economia dos Estados Unidos poderia ajudar o mercado de commodities.

– Não se prevê nenhum colapso como o que se viu em 2008. Talvez a notícia boa venha dos Estados Unidos onde a economia tem mostrado sinais de dinamismo. Se o crescimento retomar, a china continuar no seu ritmo e os Estados Unidos acordarem, aí isso vai ser uma boa notícia em preços de commodities.

Enquanto uma recuperação das economias mundiais e dos preços não vem, o conselho é ir garantindo pelo menos os custos de produção através de contratos no mercado futuro.

– Eu aconselho que ele trave os custos, porque desta maneira você não está especulando com a sua vivência. Se você travou os custos, não vai perder tanto. A minha recomendação é tendo uma alta leve, seja de R$ 0,50 no preço da soja, para aproveitar e vai vendendo aos poucos, seja no mercado futuro, seja no mercado a termo – recomenda Pedro Dejneka.