Cultivares de maracujá desenvolvidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estão ganhando mercado em todo o Brasil. Pernambuco, Bahia e Tocantins são alguns dos estados que mais compram sementes e mudas da fruta e, com maior valor agregado, agricultores familiares perceberam a vantagem no plantio.
Uma estufa em Planaltina (DF) produz, em média, cinco mil mudas de maracujá por mês. Todas são cultivares BRS desenvolvidas pela Embrapa e produzidas por Deocleciano Santos Lima, produtor licenciado pela Embrapa para produzir mudas e sementes de maracujás azedos e silvestres
“As cultivares mais procuradas são o gigante amarelo e o rubi do cerrado. Hoje está chegando ao consumidor, porque ele está conhecendo que o maracujá roxo tem uma qualidade de suco melhor e menos ácido”, disse o produtor.
A tecnologia BRS está ganhando lavouras em todo o país. Os números da Embrapa indicam que, de 2008 pra cá, 220 quilos de sementes foram vendidos, o equivalente a 15% da área cultivada de maracujá no país, ou seja, 8 mil hectares. De acordo com a pesquisadora Keize Pereira Junqueira, da Embrapa, mais de 50% de área cultivada de maracujá no Distrito Federal, Pernambuco e Tocantins são de produtos com a genética BRS.
Ela explica ainda sobre a importância de não se reaproveitar sementes para um novo plantio. Em um hectare é possível cultivar mil pés de maracujá utilizando 25 gramas de semente, que custam cerca de R$ 200, o que é considerado um retorno garantido. “A média nacional de produção de maracujá gira em torno de 14 toneladas por hectare. A genética BRS de maracujá azedo tem potencial pra produzir acima de 50 toneladas por hectare, o que significa um ganho muito grande. A gente sempre diz que o planejamento dele no momento do plantio é determinante para o sucesso lá na hora da colheita”, falou.
Pérola do cerrado
Entre as cultivares de maracujá silvestre, o pérola do cerrado está chegando aos mercados e conquistando cada vez mais produtores, inclusive os pequenos. Além de ser rústico e resistente às doenças, tem boa produtividade. “É um material diferenciado em termos de valor agregado. Ele é vendido como uma fruta especial e, além de se adaptar aos cultivos orgânicos, assentamento de reforma agrária, o produtor consegue um bom valor pela venda de cada quilo desse maracujá”, analisou o pesquisador da Embrapa Fabio Gelape Faleiro.
O lucro que o produto pode dar chegou a assustar a produtora rural Francisca Inês do Nascimento, que hoje colhe 80 quilos da fruta por semana em cerca de mil pés. “Eu assustei, eu falei assim: ‘nossa, tudo isso?!’ Pra mim foi uma surpresa muito grande. O fato de ele ser orgânico, o valor agregado dele é bem maior, mas eu não sabia que era tanto. Sinceramente, eu assustei quando eu vi aquele valor todo eu falei assim: ‘sério? Acorda, acorda!’”
Agora, Francisca e o marido já se acostumaram com o lucro desta variedade do maracujá e chegam a ganhar em média R$ 8 por quilo ao venderem para feiras agroecológicas. Segundo os produtores, o negócio está dando certo graças à assistência técnica que estão recebendo.
Para a agricultora Francisca, que é assentada da reforma agrária há quatro anos, a qualidade da fruta fez toda a diferença. Ela conta que conseguiu quitar algumas dívidas com a venda da produção, mas sonha em ter mais independência financeira. “A minha expectativa é sobreviver daqui, que a minha fonte de renda maior seja o meu maracujá”, finalizou.