Segundo pesquisador da Embrapa, ainda não é possível eliminar a presença da praga, mas que o cultivo da leguminosa ajuda a controlar o parasita
Sebastião Garcia | Londrina (PR)
Um estudo da Embrapa Soja comprovou que pelo menos 10% da produção brasileira de soja se perde a cada safra por causa do ataque de nematoides. O desafio da pesquisa é desenvolver variedades resistentes a este parasita. Mas a eficiência no controle depende muito do produtor rural.
O nematoide é tão pequeno que só é possível enxergá-lo com uma lupa ou microscópio, mas o estrago dele é grande. O pesquisador da Embrapa Waldir Dias é um dos mais requisitados especialista em nematoides no Brasil e explica um pouco mais como esses parasitas agem.
– Eles têm uma estrutura que se chama estilete, que usam para tirar o alimento da soja, uma ação espoliadora. Ao mesmo tempo em que ele tira o alimento, também injeta toxinas no interior destas raízes, o que acaba causando o que chamamos de dano mecânico – explica Dias.
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O resultado deste dano é a queda na produtividade. As folhas amareladas podem ser um dos sintomas da doença. A Embrapa Soja, em Londrina (PR), está pesquisando para oferecer mais variedades resistentes aos nematoides. Já existem muitas atualmente, mas o problema é que existem diversas espécies de nematoides, sendo o Pratylenchus um dos mais preocupantes.
– Esse é um nematoide muito polifago, ele se alimenta de quase todas as plantas cultivadas, inclusive as ervas daninhas. Então é muito difícil o agricultor tirar o alimento dele. No caso deste nematoide, lá em Mato Grosso, Goiás, no cerrado de uma forma geral, o agricultor tem lançado mão de uma cultura ou espécies que não tem valor econômico, mas que ele usa para conviver com este nematoide – disse Waldir Dias.
O pesquisador usa o termo conviver porque, na verdade, é muito difícil acabar ou erradicar os nematoides. Existem algumas estratégias para manter esta convivência e diminuir os prejuízos nas lavouras de soja. Uma delas é usar variedades de sementes que sejam resistentes. Outra é se utilizar das boas práticas de manejo, tanto da cultura quanto do solo, além da rotação de culturas. Mas não com culturas tradicionais, que já fazem parte do ciclo de produção. Um exemplo é a crotalária, uma leguminosa que não tem valor comercial, mas que pode conviver com os nematoides e aumentar o lucro na produção de soja.
– Quando o produtor colhe a soja, ao invés dele semear o milho safrinha ou o algodão, ele pode semear espécies de crotalárias. Pelo fato delas serem praticamente imunes ao pratylenchus, mesmo na entressafra elas dão um controle razoável do parasita, de modo que o agricultor pode voltar com a soja no verão seguinte – comenta o pesquisador.
A crotalária é mais usada hoje como adubo verde, na cobertura de solo. Segundo os pesquisadores, a planta tem grande potencial para fixação do nitrogênio nas folhas, que depois acaba sendo incorporado no solo. A ampliação do uso das variedades de crotalárias nas lavoras brasileiras também faz parte das pesquisas da Embrapa. Como a rotação de culturas para controle de nematoides, o ideal, diz o pesquisador, seria deixar a lavoura com crotalária um ano inteiro, não só na entressafra. A ação seria mais eficiente e teria resultado mais robusto na produtividade.
– Como o produtor faz uso destas crotalárias só na entressafra, ele não consegue acabar com a população de nematoides no solo. Com isso, quando o agricultor volta com a soja, acaba que estes nematoides voltem a crescer muito rápido. Ou seja, se o sojicultor fizer uso das crotalárias ou de qualquer cultura só na entressafra, ele vai ter que repetir esta prática todos os anos. Ao passo que se, talvez, ele fizesse no verão, ele poderia fazer isso a cada dois, três anos – completa o pesquisador da Embrapa Soja Waldir Dias.
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