Cultivo de frutas vermelhas vira opção econômica no Rio Grande do Sul

Italiano radicado na região de Vacaria ajudou a desenvolver a produção de framboesa, amora, cereja e mirtiloO desjejum do italiano Sergio Maffioletti, 77 anos, sempre começa por um copo de suco de mirtilo, de preferência da fruta colhida no pomar que cultiva há mais de duas décadas em Vacaria, no Rio Grande do Sul, mais especificamente na região dos Campos de Cima da Serra. O rito matinal tem dois propósitos: manter a saúde - o bisavô Maffioletti aparenta menos idade do que tem - e brindar aos negócios.

A empresa ItalBraz (mescla de Itália-Brazil, com z), de Maffioletti e da mulher, Chiara Arrigoni, produz cerca de 300 toneladas anuais de pequenas frutas, como framboesa, mirtilo, amora, cereja e moranguinho. São 50 toneladas de mirtilo – metade da safra total da fruta em Vacaria. Conhecida por blueberry nos Estados Unidos, vale de R$ 20 a R$ 30 o quilo, dependendo do momento e do mercado.

– É uma fruta muito consumida no meu país e na Europa – diz Maffioletti.

O italiano simpático – gosta de colher frutas maduras com as próprias mãos para que os visitantes saboreiem ao percorrerem o pomar – estabeleceu-se na região meio por acaso. Nos anos 1980, costumava viajar de Milão ao Chile para importar framboesa, mirtilo e cereja. Ao descansar no Balneário Gaivota, em Santa Catarina, informaram-lhe que Vacaria plantava maçã em larga escala.

Atualmente, o município produz 300 mil toneladas de maçãs, em 6,8 mil hectares. A dedução de Maffioletti era certa: hoje, o município também colhe 3,4 mil toneladas de pequenas frutas, em 169 hectares. Já são 202 produtores de framboesa, amora, mirtilo e moranguinho.

Pioneiro na produção intensiva, Maffioletti inicialmente vendia 90% do mirtilo para a Europa, a partir do comércio de hortifrutigranjeiros que tem em Milão. Nos últimos anos, concentrou-se na venda para Rio de Janeiro e São Paulo, que descobriram o sabor e as propriedades da fruta.

– O mercado brasileiro cresceu. Ficou mais fácil vender aqui do que exportar para a Itália – diz.

O dono da ItalBraz apegou-se ao Rio Grande do Sul. Plantou um segundo pomar na Vila Haidee (totalizando 90 hectares), perto da cidade, às margens da rodovia Vacaria-Lagoa Vermelha (BR-285). No escritório, exibe um lombilho (sela gaúcha de montar) e uma fotografia em que aparece andando de charrete.

Nos seis meses em que mora aqui (na outra parte fica em Milão), Maffioletti assiste ao Rodeio Crioulo Internacional de Vacaria. Veste uma bombacha e enturma-se com a gauchada, embora fale um português claudicante. Adora o churrasco – nenhum corte em especial, mas o conjunto de carnes servidas nos espetos.

No entanto, se oferecerem uma cuia de chimarrão, é provável que não aceite. O italiano achou amarga a infusão de erva-mate. Prefere o suco de mirtilo, a bebida que os pilotos britânicos ingeriam, antes dos combates aéreos noturnos da II Guerra Mundial, para aguçar a visão contra os inimigos alemães.

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