De acordo com o chefe de Planejamento Estratégico do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), José Garcia Gasques, chama a atenção o fato de os preços internacionais privilegiarem produtos usados, em grande parte, como ração animal e na fabricação do etanol, em detrimento de produtos exclusivos para consumo humano como arroz, trigo e feijão, cujas culturas estão praticamente estagnadas.
Segundo Gasques, o consumo de soja e de milho aumentou muito no mercado internacional devido a outros usos, além do consumo humano. Esse cenário explicaria os preços elevados, estimulando os produtores rurais a expandir as áreas de plantio com a perspectiva de obter maiores ganhos.
O mesmo movimento, no entanto, não é observado em relação ao arroz, feijão e trigo, que têm preços mais deprimidos no mercado mundial, embora haja carência de alimentos em algumas regiões como a África, Ásia e mesmo a América Latina. Para José Garcia Gasques, o Brasil se posiciona como um caso à parte, por ainda dispor de áreas agricultáveis a serem exploradas e devido aos ganhos de produtividade nas lavouras em geral, embora exista limitação na questão climática do Nordeste.
Ele lembra, porém, que a produção nacional de arroz e feijão é suficiente apenas para garantir o abastecimento doméstico, enquanto a colheita de trigo não atende à metade das necessidades de consumo interno, em torno de 10,5 milhões de toneladas/ano. Esse déficit causou prejuízo de US$ 1,832 bilhão ao país no ano passado, com importações de 5,74 milhões de toneladas do produto ao preço médio de US$ 319 por tonelada.
Gasques defende uma política “mais direcionada para o trigo”, com investimentos também no Cerrado, além da região Sul, com o objetivo de equilibrar abastecimento interno e consumo. No seu entender, o abastecimento será mais difícil neste ano, pois a produção nacional deve cair para 4,48 milhões de toneladas, segundo cálculos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Esta deve ser a safra mais baixa dos últimos cinco anos, devido à falta de chuvas na época do plantio nos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
Problemas climáticos também afetaram a Argentina, maior fornecedor de trigo para o Brasil, cuja produção deve cair de 13,2 milhões de toneladas, em 2012, para 10 milhões de toneladas, em 2013, de acordo com estimativa do Ministério da Agricultura argentino. Os países do Mercosul atendem a 99% das necessidades brasileiras de trigo e, em caso de falta do produto na região, o Brasil terá que comprar nos Estados Unidos e Canadá, a preços bem mais altos, lembra Gasques.