A coleta de informações sobre a agricultura da China tem crescido, mas o país asiático, um dos principais players do mundo no setor, continua enfrentando um grave problema: a falta de confiabilidade dos seus dados. Em sua mais recente tentativa de tornar mais claro o que acontece em seu setor agrícola, o governo chinês começou a divulgar, em julho, estimativas sobre produção, consumo, exportação e importação de cinco commodities: soja, milho, algodão, óleo vegetal e açúcar. Entretanto, os números de Pequim são significativamente diferentes do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o que tem deixado investidores desconfiados.
A preocupação reflete a possibilidade de os números serem alterados por questões políticas em um país onde o governo tem mão firme no controle da economia. Além disso, a falta de transparência é somada nesta conta.
A China, por exemplo, é menos otimista que o USDA quanto ao volume de milho que consumirá em 2016/2017. A previsão chinesa é 7% menor do que a do órgão norte-americano. Já a estimativa de importação de milho é um terço do que projeta o USDA para o mesmo período. O país asiático tem um grande volume estocado do cereal, o que deixa o mercado atento, avaliando quanto tempo vai levar para que os estoques sejam reduzidos.
De acordo com o diretor executivo da China-America Commodities Data Analytics, Jim Huang, os dados oficiais chineses estão “muito fora de controle”. A empresa fornece estimativas privadas e análises sobre o setor agrícola no país. Ele destacou que o rebanho chinês de suínos pode ser 20% menor do que o estimado, apontando dados do USDA que sugerem que a China não importou ou produziu alimentos suficiente para atingir tal nível.
Figurando como um dos maiores consumidores de alimentos do mundo, dados detalhados sobre quanto a China deve comprar e produzir afetam diretamente os preços das commodities agrícolas. Como a relevância do país tem crescido nos últimos anos, a necessidade de informações mais atualizadas se tornou ainda mais vital para os mercados.
Apesar disso, o governo ainda não divulga números sobre algumas culturas-chave, como o tamanho de seus estoques de milho e soja. “O mercado pode ser pego de surpresa se não souber o que está acontecendo na China”, disse o economista sênior do USDA na China, Fred Gale.
“Muitos na indústria ficaram mais confortáveis com os números divulgados pela China nos últimos anos”, disse o diretor da empresas especializada em contratos futuros RCM Alternatives, Greg Adamsick. Ele destacou, entretanto, que boa parte continua a observar atentamente o que diz o USDA. O Ministério de Agricultura da China e sua Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma não responderam aos pedidos de entrevista e comentários sobre a exatidão de suas estimativas.