A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) uniram forças para desbravar uma nova fronteira na produção de alimentos: a carne cultivada em laboratório.
O projeto pioneiro, liderado pela professora Silvani Verruck, do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos, busca transformar células animais em cortes estruturados de carne, como um bife, por exemplo.
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Financiado pela Finep com R$ 2,4 milhões, o estudo tem um prazo de 36 meses e envolve pesquisadores de diversas áreas do conhecimento.
A iniciativa responde a um desafio urgente: garantir a segurança alimentar de uma população mundial em constante crescimento.
Desvendando os segredos da carne cultivada
A carne cultivada emerge como uma alternativa promissora à produção tradicional de carne. Através da engenharia de tecidos, células animais são cultivadas em ambientes controlados, gerando tecidos ou proteínas de alto valor nutricional.
O projeto da UFSC se concentra em um dos maiores desafios da área: criar estruturas de suporte (“scaffolds”) que mimetizem a textura e o sabor da carne tradicional.
“Para se produzir cortes de carne, como é o caso da picanha bovina, por exemplo, é preciso mimetizar os processos biológicos que ocorrem naturalmente, sendo, portanto, necessário a formatação através de processos da engenharia de tecidos usando scaffolds”, argumenta a pesquisadora, no texto do projeto aprovado pela Finep.
Para isso, a equipe vai explorar biomateriais de origem vegetal, buscando minimizar o uso de ingredientes animais e garantir a escalabilidade da produção.
A bioimpressão 3D será uma das ferramentas utilizadas para criar estruturas tridimensionais para as células musculares.
Uma bioimpressora de alta resolução será adquirida com parte do financiamento, transformando o Laboratório de Carnes e Derivados da UFSC em um centro de pesquisa pioneira em carne cultivada no Brasil.
A professora Silvani reconhece que a carne cultivada ainda é uma tecnologia disruptiva, o que exige um compromisso com a comunicação científica e a educação do público.
“É uma tecnologia disruptiva, e como tal, traz um certo desconforto ao público leigo. Por isso, o investimento em pesquisa e desenvolvimento poderá esclarecer as dúvidas relacionadas a este novo tipo de alimento. Já se produzem muitos ingredientes alimentares por meio da biotecnologia, por exemplo, enzimas usadas no processo de produção de queijos, algumas vitaminas, bebidas fermentadas, e a carne cultivada irá configurar mais uma opção”, diz Verruck.
Para Silvani, o pioneirismo da UFSC também terá implicações relevantes na área. “Entendo que, agora, parte do nosso papel como universidade é passar o conhecimento sobre o assunto adiante, que ele chegue em todos com informações baseadas em ciência. É uma área bem complexa, muita pesquisa precisa ser realizada para tornar o processo escalável”.
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