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Os silos espalhados pelos campos brasileiros têm capacidade estática para armazenar pouco mais de 146,3 milhões de toneladas de grãos, segundo dados do Ministério da Agricultura (Mapa). Não é o suficiente para a produção, que nesta safra deve alcançar 190 milhões de toneladas. De acordo com a Fundação das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, o ideal é que os países tenham capacidade para armazenar 120% do que produzem.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) admite que pelo menos 40 milhões de toneladas ficam fora dos armazéns todos os anos, porque falta espaço. O déficit é maior na região Centro-Sul, passando de 35,3 milhões de toneladas. Depois o Norte e Nordeste, com 5,6 milhões de toneladas.
Segundo levantamento de 2013, 86,44% da capacidade estática dos armazéns brasileiros estão fora da porteira. Dos 17.384 mil silos, 13.850 mil são de empresas privadas, as tradings. As cooperativas têm 3029 armazéns, o que representa 20,57% da capacidade nacional de armazenagem e é insuficiente para absorver toda a produção dos cooperados.
O engenheiro Renato Pavan tem 35 anos de experiência na área de infraestrutura e transportes e diz que a deficiência de armazenagem no campo atinge toda a cadeia produtiva, causando perdas na colheita e encarecendo o transporte e a entrega do produto tanto no mercado interno quanto na exportação.
– O que acontece hoje: colhe, põe no caminhão e vai para o silo coletor, porque não tem armazenagem. Enfrenta fila e esse milho começa arder, perdendo recursos, desvalorizando. Os Estados Unidos produzem 500 milhões de toneladas de grãos, 66% é armazenado na fazenda. No Brasil, nós temos apenas 15%. Então, nós temos apenas 30 milhões toneladas na propriedade. Se a gente tem uma safra de 180 milhões, temos um déficit de 150 milhões de toneladas na fazenda – afirma Pavan.
O engenheiro responsabiliza o governo pela situação e diz que, apesar da liberação de R$ 5 bilhões de recursos anunciada no ano passado, há 20 anos o setor não tinha qualquer incentivo e o sistema de armazenagem público não atende a demanda.
– Na Conab, que é a armazenagem reguladora, tem um problema sério, eles consideram 44% da safra como Conab, mas acontece que tem armazéns de sacaria, silos mal localizados… Então, a Conab precisa de mais de 1 milhão de toneladas espalhados estrategicamente pelo Brasil para resolver – aponta o engenheiro.
O governo garante que está atento a esta situação. O investimento neste ano deve chegar a R$ 500 milhões para construção de 10 armazéns e reforma dos que já existem. Com isso, a capacidade estática da Companhia vai ter um acréscimo de 900 mil toneladas. Hoje, os armazéns da Conab respondem por 4% do total da capacidade estática do país.
– A Conab está se preocupando, para que a gente possa construir armazéns dentro da nova realidade logística brasileira. No traçado das ferrovias, das novas rodovias, enfim, da malha logística brasileira, e com isso vamos ter sempre armazéns da Conab em locais estratégicos, que possam realmente facilitar o escoamento da produção – explica o ex-diretor de abastecimento da Conab, Marcelo Melo.
A cooperativa dirigida por Walter Pitol, no Estado do Paraná, é uma das maiores do Brasil, tem quase 5 mil cooperados e emprega mais de 7 mil pessoas. Os silos da cooperativa têm capacidade para receber até 180 mil sacas de milho por dia e de armazenar 600 mil toneladas. No planejamento para os próximos anos, a meta é aumentar a capacidade para 900 mil, R$ 160 milhões vão ser investidos na modernização e ampliação dos armazéns.
– Você fazer investimentos, altos investimentos sem a participação do governo é muito difícil – comenta Pitol.
Especialistas defendem que os ganhos de quem armazena são maiores. Estima-se que o investimento num silo tem retorno em quatro, no máximo cinco anos. Eduardo Costa Cassiano percebeu a diferença logo que instalou armazéns na propriedade. O produtor planta soja e milho no oeste do Paraná e tem dois silos, ambos cheios. Um com milho, outro com soja. São 50 mil sacas que ele reserva, para negociar na entressafra.
– No segundo semestre há um deslocamento de preços, do preço da lousa, da cooperativa para o preço disponível no mercado. A rentabilidade aumenta em torno de 6%, até 10% – explica Cassiano.
O investimento foi de R$ 250 mil em cada armazém, mais R$ 700 mil para a parte onde estão os equipamentos. O negócio tem sido tão bom, que o produtor rural estuda a construção de outros dois silos, prevendo gastar pelo menos R$ 1 milhão na estrutura.
– Estamos buscando financiamento do governo. Não fosse isso, não daria – reforça Cassiano.
Na reportagem de segunda, dia 21, você vai ver o quanto o Brasil perde pela falta de armazéns. Em Mato Grosso, o Estado que mais produz grãos no Brasil, produtores são obrigados a deixar boa parte da colheita a céu aberto.