No entanto, a situação precária da infraestrutura no país ainda é um fator que atrapalhará os produtores. A avaliação foi feita durante o 7º Fórum Nacional do Milho, em Não me Toque (RS), evento que faz parte da 16ª Expodireto Cotrijal.
Apresentando as tendências para o mercado de milho, Carlos Cogo, sócio-diretor de Consultoria da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica, afirmou que o aumento da demanda internacional por carne de frango e suína, além do avanço na produção de peixes em cativeiro, abre uma série de oportunidades para o milho, diante da maior necessidade por ração.
– O potencial para o consumo mundial de carnes é muito grande. Frango e suíno depende de milho e soja, aumentando a demanda por esses produtos – disse Cogo.
Ele reconheceu que o milho ganhou força nos últimos anos no Brasil, tornando-se a segunda maior cadeia produtiva do setor pecuário nacional e levando o país a se tornar o segundo maior exportador global, tendo uma participação de 19% no mercado global. Apesar dos elogios, Cogo enumerou uma série de questões que ainda dificultam a vida dos produtores, destacando os problemas de infraestrutura, principalmente do lado da armazenagem.
– Nós temos um déficit de armazenagem de 57,7 milhões de toneladas, o que reduz a margem de ganho dos produtores. O país ainda não conseguiu resolver os problemas de logística – disse.
Ele também destacou que diversas regiões, especialmente o Centro-Oeste e o Rio Grande do Sul, enfrentam déficits de estoque milho, apesar de o país registrar um excedente de 40 milhões de toneladas. Cogo novamente culpou os problemas de infraestrutura pelo problema, demonstrando as dificuldades de escoamento da produção.
– O problema do Brasil é transportar o produto para lugares que precisam – afirmou.
Outra questão apresentada pelo sócio-diretor de Consultoria da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica foi a diminuição na quantidade de terras utilizadas para a produção de milho, apontando a soja como principal responsável pela situação. Segundo ele, o problema pode ser contornado com o maior uso de tecnologia nas lavouras, para compensar a alta rentabilidade da soja.
Sobre a safra 2014/2015, Cogo acredita que ela não deve bater recorde de produção, ficando levemente abaixo das 200 milhões de toneladas previstas pela Companhia Nacional de Abastecimento Conab), devido a quebras na produção em partes do país, principalmente o Centro-Oeste, mas acredita que o nível atual do dólar abre “perspectivas de preços remuneradores e estáveis”.
Apesar das vantagens da atual cotação da moeda norte-americana, ele afirmou que o dólar vai elevar os custos da próxima safra de milho, principalmente dos adubos importados.
– Um dólar a R$ 3,10 é excelente para comercializar a safra 2014/2015, mas péssimo para constituição de custos para a próxima safra – disse.
Abramilho
Diante do cenário apresentado por Carlos Cogo, e das dificuldades econômicas previstas ao Brasil em 2015, o vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Enori Barbieri , destacou a importância do Projeto de Desenvolvimento para a Cadeia Produtiva, plano da entidade para elevar a produção do milho no Brasil.
– O Projeto nada mais é que criar uma grande safra de milho e incentivar sua transformação em subproduto, para que o país tenha capacidade de transformá-lo em proteína animal – afirmou.
Em pareceria com a Fundação Dom Cabral e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Projeto de Desenvolvimento para a Cadeia Produtiva visa elevar a produção de milho no Brasil através do desenvolvimento da cadeia do produto, em pareceria com o governo federal.
Governo
A questão da infraestrutura precária também foi levantada pelo coordenador geral da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Sávio Rafael Pereira, mas ele afirmou que o governo federal liberou R$ 25 bilhões em crédito nos últimos cinco anos para a construção de centros de armazenagem.
– O maior problema do país é o escoamento da safra. O déficit de armazenagem é histórico e grande, mas o governo tem atuado – disse.
Pereira disse que os preços do milho devem ser favoráveis, por conta da alta do dólar e da demanda do mercado global por proteína animal, mas disse que o produto ainda deve enfrentar a concorrência da soja e que essa é uma questão que o governo federal não terá capacidade de resolver.
– O que determina a dinâmica de toda a produção é o mercado. O governo atua em horas mais difíceis, mais complexas. Não esperemos que o governo faça grandes intervenções – afirmou.