Em 2012, quando a economia argentina cresceu menos de 2%, Buenos Aires importou US$ 18 bilhões em mercadorias do Brasil. O ano anterior, o montante havia sido de US$ 22,7 bilhões, segundo o economista argentino Maurício Claveri, da consultoria Abeceb.
— A partir de abril (de 2012) passou a ocorrer uma demanda menor argentina. Desde então, surgiu uma mistura de efeitos no fluxo do comércio do Brasil para a Argentina, que incluiu esta menor demanda, provocada pelo menor crescimento do país, e os reflexos das barreiras comerciais (impostas pelo governo argentino) — disse Claveri.
No mesmo período, o Brasil importou US$ 16,4 bilhões em produtos argentinos – uma diminuição de 2,7% em relação ao ano anterior. A queda na importação de produtos brasileiros fez o déficit comercial da Argentina com o Brasil cair em 2012 para US$ 1,5 bilhão – o que significa uma redução de 73%.
O comércio entre os dois países caiu de US$ 39,6 bilhões em 2011 para US$ 34,4 bilhões no ano passado. Para o economista Matías Carugati, da consultoria Management & Fit, “o maior crescimento argentino sempre resultou em maior importação”.
— O menor crescimento argentino significa consequências negativas para a economia brasileira.
Carugati ressaltou que a Argentina é o terceiro sócio comercial do Brasil – depois da China e dos Estados Unidos – e “cada ponto a menos de crescimento argentino significa muitos milhões de dólares a menos no comércio exterior”.
O economista disse que as barreiras comerciais aplicadas pelo governo da presidenta Cristina Kirchner afetaram “mais o Brasil do que outros países” e contribuíram para reduzir as exportações brasileiras para o mercado vizinho.
Claverí e Carugati disseram que o Brasil acumula três meses de déficit na balança comercial com a Argentina, mas esse quadro pode começar a mudar a partir de março ou abril deste ano.
— A expectativa é que o crescimento econômico argentino fique entre 3% e 5% em 2013. Com isso, as importações devem aumentar, mas o efeito positivo nas importações de produtos brasileiros dependerá de se a Argentina continuará discriminando ou não o país vizinho com as barreiras comerciais — disse Carugati.
A consultoria Ecolatina, de Buenos Aires, citou um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) no qual “por cada ponto percentual de queda do Produto Interno Bruto [PIB] do Brasil, o crescimento da Argentina seria afetado em até 0,25%”. Mas para analistas, a Argentina terá pela frente “desafios próprios”, independentes da saúde da economia brasileira. Um deles é a inflação, estimada em cerca de 10%, pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) e em 25% por consultorias privadas.
Há ainda questões como a brusca queda na venda de imóveis, que em novembro registrou retração de 43,5% na comparação com o mesmo mês de 2011. Neste caso, os especialistas atribuem o fato ao controle cambial, que teria tido influência sobre as operações feitas tradicionalmente em dólares e não na moeda local, o peso.
Outros efeitos de medidas locais teriam sido a redução no número de argentinos que viajaram para as tradicionais férias de verão ou que diminuíram a quantidade de dias de descanso nesta temporada, seja pela inflação ou pelo controle cambial – que limita a compra de moedas estrangeiras, entre elas o real, e provoca altas no preço da moeda brasileira no mercado paralelo.