Ações foram feitas pelo governo federal para garantir o fornecimento do insumo, mas as medidas dividiram os interessados em fechar uma equação que historicamente apresenta saldo negativo devido a uma produção menor do que o consumo no Estado.
Mesmo em anos de boas safras, o Rio Grande do Sul tem uma conta que não fecha e precisa importar milho de outras regiões produtoras. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que os gaúchos consomem cerca de 7 milhões de toneladas do grão – muito concentrado em ração animal. Nem mesmo a safra de 2010/2011, de 5,78 milhões de toneladas, conseguiria atender à demanda.
Para aumentar a pressão sobre os setores que dependem do produto, o preço disparou no mercado internacional por causa da quebra da safra dos Estados Unidos, maiores produtores e exportadores do mundo. A alta dificultou a aquisição do milho pelas empresas e pelos criadores.
– Isso nos trouxe alto custo de produção e escassez do produto em algumas regiões, como a Noroeste. O que nos salvou, por um tempo, foi a venda de milho a balcão ao preço de R$ 21 a saca de 60 quilos – afirma o presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador.
Para tentar amenizar a situação, o governo federal, além da venda do produto a balcão (com custo subsidiado), tomou outras medidas como a liberação de 200 mil toneladas de milho (116 mil para o Estado) para atender a pequenos produtores, a renegociação das dívidas dos criadores de suínos e os leilões de Valor de Escoamento da Produção. Mas o que mais tem tirado o sono de quem necessita da matéria-prima é o aumento das exportações. Em novembro, o país bateu o recorde mensal de 3,9 milhões de toneladas embarcadas. No acumulado do ano, são 16,98 milhões de toneladas.
– Entregamos um documento ao Ministério da Agricultura para travar momentaneamente as exportações. Nós não somos contra, até porque também exportamos o nosso produto, mas não falta frango no país, ao contrário do milho – ressalta o presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), Nestor Freiberger.
O avanço da soja sobre o Estado – motivado pelas cotações ainda maiores do que as do milho – também promete complicar a matemática da produção na safra deste verão. Produtor em Mato Castelhano, José Mattei dedicou 60 hectares para o milho, o que significa um terço da lavoura – outros 120 hectares serão destinados à soja. Apesar de cultivado em menor quantidade, o milho cumpre papel importante na equação particular do agricultor:
– Quando começamos o plantio direto na propriedade, usamos o milho como alternativa para a rotação de culturas. Outra vantagem é que colhemos mais cedo e temos renda antecipada.
Dificuldade de abastecer o mercado com milho faz produtos como a carne de frango e a de suínos registrarem alta
Mais uma vez a equação entre consumo e produção de milho no Rio Grande do Sul não deve fechar. Na previsão mais otimista da Conab sobre a intenção de plantio, a produção máxima projetada é de 5,45 milhões de toneladas no período 2012/2013. A desconfiança com relação à resistência do milho a uma possível estiagem aliada aos preços mais atrativos da soja leva os produtores a reduzir a área cultivada ou até mesmo a deixar de plantar o milho.
Na cidade de Passo Fundo, Jeferson Saggiorato desistiu do grão nesta safra. Até o ano passado, destinava 145 hectares para a cultura, o que representava 20% da lavoura. O restante era ocupado pela soja, que vai tomar a área total da propriedade no ciclo 2012/2013.
– Quando fiz o planejamento, vi que não valia a pena plantar milho. Os custos estavam muito altos – justifica Saggiorato.
Presidente da Associação dos Produtores de Milho do Rio Grande do Sul (Apromilho), Cláudio Luiz de Jesus avalia que uma das saídas para aumentar a produção do grão no Estado é investir em irrigação das lavouras.
– Tivemos uma frustração na safra passada, o que trouxe um problema sério para o Rio Grande do Sul e desestimulou o produtor. Mas esperamos que este ano tenhamos mais sorte e possamos atender à demanda interna no Estado – ressalta De Jesus.
Problemas pontuais em regiões que dependem de importação
O governo federal entende, no entanto, que não existe risco de falta do produto. Com uma produção de 72,98 milhões de toneladas do grão, a avaliação é de que existe espaço para atender a parte do mercado externo, que depende do produto americano. O diretor substituto do departamento de comercialização da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, José Maria dos Anjos, reconhece dificuldades pontuais em regiões que dependem da importação.
– Temos um problema momentâneo devido à quebra de safra e à alta de preços, mas a próxima colheita começa a entrar em fevereiro do ano que vem e, com a oferta, o mercado acalma – diz Dos Anjos.
Com esse cenário, não restou outra opção a não ser repassar a conta ao consumidor. De acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), o preço do frango inteiro ao consumidor de Porto Alegre teve alta de 8,97% entre janeiro e novembro deste ano. Na carne suína, o reajuste no mesmo período chegou a 5,33%.
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