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Desvalorização do dólar faz carne brasileira perder competitividade no exterior

Indústria de bovinos encerra o ano de 2009 com saldo negativoA indústria de carne bovina encerra o ano de 2009 com saldo negativo, com queda de 10% nas exportações e rentabilidade 30% menor na comparação com o ano passado. A crise derrubou as vendas e a desvalorização do dólar fez a carne brasileira perder competitividade lá fora.

Durante alguns meses deste ano, os abates do frigorífico Ouro do Sul diminuíram 40%, mas aos poucos a produção volta ao patamar de 2008. Na unidade de Harmonia (RS), a 60 quilômetros de Porto Alegre, são abatidos 160 bovinos por dia, destinados ao mercado interno. Apesar do ano ter sido difícil, a empresa decidiu manter os 300 funcionários na atividade.
 
? Nós conseguimos manter níveis de abate e também níveis de emprego, mas tivemos sim um prejuízo em função de redução de rentabilidade, justamente por empresas exportadoras direcionarem mais produto para o mercado interno, acabamos tendo margens mais espremidas, mais reduzidas ? afirma o diretor do frigorífico, Ronei Lauxen.

A estratégia da empresa foi reorganizar a linha industrial e reduzir os custos de produção. A medida também foi adotada por outras indústrias.

Assim que teve notícia da crise, o frigorífico Frigol, localizado na região Sudeste de SP decidiu cortar gastos e investir em produtividade. Começou com um treinamento para funcionários e a resposta veio rapidamente. Em poucos meses, o volume de abate passou de abate passou de 98 para 118 animais por hora, um aumento de 20%. Porém, as mudanças não aconteceram só na linha de produção. Todos os setores da empresa receberam um pacote de metas e cada centavo ganhou atenção especial.

? Redução pura e simples de gasto. De um clipe a um cafezinho, um quilômetro rodado de um caminhão ? comenta o diretor do Frigol, Djalma Gonzaga de Oliveira.

O dirigente aprendeu muito cedo este cuidado nas contas para administrar o frigorífico. O pai era pecuarista e juntou dinheiro para presentear cada filho com uma casa de carnes. Aos 12 anos, Oliveira já trabalhava no próprio negócio. Uma experiência que valeu e muito para enfrentar a crise. O Frigol manteve as vendas e conseguiu juntar dinheiro para crescer no mercado, aproveitando o espaço deixado por empresas que fecharam as portas. Em 2010, pretende até ampliar a capacidade de abate.

? Nós conseguimos aí uma captação de mercados que foram deixados por outras companhias conseguimos manter nos 20% de exportações. A gente estava projetando um crescimento via arrendamento de algumas plantas, um crescimento em torno de 30% em termos de produção. Mas isso tudo sempre olhando muito o desempenho do mercado ? acrescenta Oliveira.
 
Empresas como o Frigol avançaram porque várias outras não conseguiram resistir à crise. Tradicionais exportadores como o frigorífico Independência e o Quatro Marcos quebraram. O que agravou a situação este ano foram estratégias traçadas antes da crise. Para o presidente da Associação dos Exportadores de Carne, foi excesso de confiança dos empresários no mercado. Junto com isso o crédito para a exportação, linha especial de empréstimo conhecida como ACC, sumiu do mercado e pesou sobre a contabilidade das empresas.

? Houve planejamento do fluxo de caixa talvez um pouco otimista. Na verdade, os ACCS escassearam ou sumiram e esse é o principal funding, principal fonte de capital de giro que as empresas utilizavam. Algumas empresas que planejaram de forma muito otimista seu fluxo de caixa e os frigoríficos trabalham com capital de giro muito alavancado. Um frigorífico que abate em conjunto 10 mil bois por dia precisa algo como R$ 13 milhões por dia para pagar os seus fornecedores. Se o capital de giro reduz drasticamente ela vai passar por um aperto muito grande. Foi um ano difícil, um ano onde entramos numa crise mundial muito séria, que afetou o setor. Caiu bastante o preço da carne cerca de 25% a 30% em relação a 2008. Os volumes também foram menores cerca de 10% do que 2008 ? diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Roberto Gianetti da Fonseca.

Na ponta da cadeia produtiva, o homem do campo sentiu – no bolso – o impacto que começou na indústria. O pecuarista João Borges investiu pesado para ter a fazenda incluída na lista trace, das propriedades habilitadas a exportar para a União Europeia. Quando entrou na lista, os frigoríficos chegavam a pagar um bônus de 20% em cima do preço de mercado da arroba. Porém, com a queda nas exportações de carne bovina, a cotação caiu e o prêmio deixou de ser pago.

? Nós caímos de uma margem de 12% para praticamente zero. Você não esta conseguindo repassar com margem nenhuma e tem todos os custos de rastreamento, de certificação, de brincos, o trabalho, o tempo que se perde com isso. Preços mais baixos, muita gente comprou com preço maior de recria no ano passado e isso entrou como estoque caro e vendendo essa arroba mais barata a pessoa fica com prejuízo ? explica o pecuarista João Borges.

A pecuária de corte representa a maior fatia do agronegócio brasileiro, faturando mais de R$ 50 bilhões por ano e conta com 7,5 milhões de postos de trabalho. De acordo com a Abiec, o setor demitiu cerca de 10 mil pessoas no último ano, e ainda não voltou a contratar. Para 2010, as perspectivas são pouco otimistas. A carne brasileira ficou mais cara para os estrangeiros. Porque o real teve valorização de 35% em relação ao dólar.

? O preço do boi brasileiro em dólar por arroba é maior que o americano, argentino, australiano. É quase o preço do boi italiano. Então, isso realmente faz com que a competição fique muito difícil ? avalia Pratini de Moraes, Conselheiro da JBS Friboi.

? Ainda vai ser um ano de recuperação e um ano ainda difícil por causa do câmbio. Nós vivemos uma dicotomia que quando o preço está bom, o câmbio está ruim; quando o preço está ruim, o câmbio está bom. Seria o ano ideal em 2011 onde nós vamos ter o preço bom e o câmbio bom e ai vai ser uma festa. Aí que o setor realmente vai mostrar seu potencial, sua lucratividade a sua capacidade de expandir ? completa Fonseca.

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