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Agricultura

Dia da Mulher: 'Avançamos muito mas ainda há bastante a conquistar no agro'

Administradora especializada em agronegócio, Marielly Biff fala sobre as conquistas, oportunidades e desafios das mulheres no campo

A participação feminina na gestão das propriedades rurais vem em uma crescente nos últimos anos, e alguns fatores foram essenciais para essa evolução, entre eles a maior adoção de tecnologia no campo, que favoreceu a inclusão das mulheres, pois muitas atividades deixaram de ser braçais.

Marielly Biff
Co-autora do blog Agroinspiradoras, Mariely Biff é graduada em Administração em Agronegócios (Uned), especialista em Gestão Empresarial (Uned), possui MBA em Agronegócios (Esalq/USP), é instrutora de cursos Agro Carreira e consultora em Sucessão Familiar para produtores e empresas.

Houve também o aumento significativo de grupos de mulheres em diversas regiões do Brasil, fortalecendo o movimento feminino e encorajando outras mulheres a participarem dos negócios rurais, dando vez e voz a quem até então não tinha visibilidade.

Além disso, as empresas que estão empenhadas em realizar eventos inclusivos, como dias de campo voltados ao público feminino ou à toda a família, bem como o aumento da contratação de mulheres em cargos que antigamente eram exclusivamente ocupados por homens. Ainda precisamos evoluir muito neste sentido, mas a cada espaço conquistado é exemplo para que outras empresas possam se conscientizar sobre a importância da participação feminina no mercado agro.

Por fim, cito os congressos e eventos destinados às mulheres, com partilha de conhecimento, incentivando a liderança no campo.

Listo aqui alguns dados do Censo Agropecuário de 2017, do Ministério da Agricultura e da Embrapa, além dos dados da pesquisa da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), que chancelam a importância e o crescimento das mulheres na gestão das propriedades:

  • O Brasil tem mais de 5 milhões de empreendimentos rurais;
  • Tem quase 1 milhão de mulheres no comando das propriedades;
  • Elas administram cerca de 30 milhões de hectares;
  • 42% estão na agricultura e destas, 48% no setor de soja;
  • 19% são proprietárias das suas terras, e das atividades econômicas que elas desempenham, 32% se dedicam a produzir lavouras temporárias e 11% de lavouras permanentes;
  • Das que não são proprietárias, 42% produzem lavouras temporárias e 7% lavouras permanentes;
  • Sobre a concentração geográfica: a maioria está na região Nordeste com (57%), seguida pelo Sudeste com (14%), Norte com (12%), Sul com (11%) e Centro-Oeste, que concentra apenas 6% de mulheres participantes da gestão.

Vale lembrar que 43% dos 1,3 bilhões de pequenos agricultores no mundo são mulheres, segundo a Comissão sobre a Situação da Mulher da Organização das Nações Unidas (ONU).

A participação feminina é destaque dentro e fora da porteira. São inúmeros exemplos de profissionais que conquistaram seus espaços através de muita competência e hoje são referência em suas profissões: produtoras rurais, engenheiras agrônomas, médicas veterinárias, zootecnistas, administradoras, contadoras, advogadas, jornalistas, pesquisadoras, executivas, entre tantas outras.

Falando em representatividade, temos muitas mulheres em cargos de destaque dentro do setor, como a ministra Tereza Cristina e a Teresa “Teka” Vendramini, atual presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB). Suas trajetórias servem de inspiração e motivação para que muitas outras mulheres continuem em busca dos seus sonhos dentro do agronegócio.

Sobre educação, temos um índice otimista: cadeiras de cursos de agronomia, zootecnia e medicina veterinária, por exemplo, antigamente predominantemente ocupadas por homens, vêm tendo a realidade mudada. Em 2015, metade dos alunos formados na Esalq eram do sexo feminino.

Dados de um estudo feito entre novembro de 2015 e abril de 2016 pela Abag revelam que 67% das mulheres do agronegócio não sentem que o espaço dado a elas seja igual ao dos homens no setor.

Para que a tão sonhada igualdade de oportunidades aconteça de fato, se faz necessário que tenhamos um mundo mais inclusivo, e para isso, é essencial que empresas participem incentivando e aderindo campanhas como a dos “Princípios de Empoderamento das Mulheres da ONU.”

Listo aqui os sete princípios de empoderamento das mulheres, que favorecem um ambiente de trabalho mais harmonioso e respeitoso:

  • Estabelecer liderança corporativa sensível à igualdade de gênero, no mais alto nível;
  • Tratar todas as mulheres e homens de forma justa no trabalho, respeitando e apoiando os direitos humanos e a não discriminação;
  • Garantir a saúde, segurança e bem-estar de todas as mulheres e homens que trabalham na empresa;
  • Promover educação, capacitação e desenvolvimento profissional para as mulheres;
  • Apoiar empreendedorismo de mulheres e promover políticas de empoderamento das mulheres através das cadeias de suprimentos e marketing;
  • Promover a igualdade de gênero através de iniciativas voltadas à comunidade e ao ativismo social;
  • Medir, documentar e publicar os progressos da empresa na promoção da igualdade de gênero.

E tanto dentro quanto fora da porteira, para que mais mulheres possam conquistar seus espaços e alcançar o tão esperado patamar de igualdade de oportunidades, precisamos praticar sororidade: apoiar e incentivar outras mulheres a conquistarem seus espaços, levar conhecimento e incentivar à capacitação no campo, principalmente em lugares onde isso ainda não é uma realidade, para que tenhamos uma sociedade mais justa e de fato inclusiva.

Ainda há muito o que se fazer. Como mulheres, nosso papel é ajudar umas as outras para que a desigualdade possa ser minimizada e para que muitas outras ganhem voz e espaço no mercado, fortalecendo uma corrente de liderança feminina, sem egos, sem disputas, entendendo que cada uma tem o seu papel e importância e é capaz de transformar a realidade do local onde está inserida.

Encerro este artigo com uma frase que gosto muito: contra competência não há argumentos. Que todos os dias possamos buscar o melhor em nossa vida profissional, que tenhamos mindset de principiante, para nunca pensarmos que o que sabemos já é o suficiente, e que todas as mulheres possam sentir quão libertador e emancipador é o conhecimento. Através dele rompemos as barreiras do preconceito e da ignorância e ganhamos força para que nossos posicionamentos ocorram da melhor forma possível.

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