Dia dos Pais no campo pode ser sinônimo de sucessão rural. A continuidade da profissão, para muitos, é uma missão: a de produzir alimentos e uma infinidade de outros produtos.
Levantamento da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo aponta que a média de idade dos produtores rurais paulistas é elevada, por isso a permanência dos jovens na atividade é um fator de extrema importância para a manutenção do segmento, que gera riquezas, renda e emprego, além de garantir a sustentabilidade social, econômica e ambiental.
A seguir, conheça algumas histórias de pais e filhos que aliaram o conhecimento dos mais experientes com a inovação e tecnologia trazidas pelos mais jovens, mantendo tradição familiar e renovação no agronegócio!
Família Marques
No sítio Santa Maria, localizado no município de Adamantina, a família Marques cultiva, em 12 hectares, frutas e pimenta dedo-de-moça. A casa avarandada e adornada com cadeiras convidativas ao descanso, mostra que ali têm pessoas que adoram a vida no campo.
“Há alguns anos, tínhamos apenas café e milho e não estava dando para sobreviver. Eu morria de medo de ter que morar na cidade, pois esse sítio vem desde o meu bisavô, que veio de Portugal no início do século passado. Foi nessa hora que o técnico da Casa da Agricultura nos incentivou a mudar de atividade adotar novas tecnologias. Foi uma grande mudança começar a cultivar frutas e pimenta; mas também uma benção, que incrementou nossa renda e melhorou nossa qualidade de vida”, comenta Waldomiro Ferreira Marques, 69, contabilizando as conquistas que incluem reforma na casa, construção de um barracão, aquisição de um trator e implementos, bem como de mais uma área, onde foi colocado um pequeno rebanho de gado de corte. “É para fazer uma poupança”, conta sorridente.
Mas o prêmio maior, segundo seu Waldomiro, é ter os dois filhos, José Carlos e Fernando, de 32 e 30 anos, respectivamente, trabalhando lado a lado. “Com eles, tenho a garantia de que a família Marques terá continuidade nessa que é uma das profissões mais gratificantes do mundo, apesar de todas as dificuldades”.
A fala é endossada por José Carlos e Fernando. “Eu e meu irmão nascemos no sítio e desde pequenos aprendemos a amar a terra, com o exemplo dos meus pais. Nunca quisemos nos mudar e ter outra profissão, mas entendemos que precisávamos contar com a experiência do meu pai, agregando novos conhecimentos, tecnologia e canais de comercialização. Com o aumento da rentabilidade, pudemos nos manter nessa atividade que amamos e nos proporciona uma qualidade de vida que não teríamos na cidade. O Fernando já se casou, mora em uma cidade próxima, mas vem todo dia para trabalhar conosco. Para nós, é uma felicidade trabalhar com meu pai, estamos já na quarta geração da nossa família”, conta José Carlos.
Família Ribeiro
Com uma história de sucesso escrita com muito trabalho, o empreendedor rural Vicente Antônio Ribeiro encontrou na caprinocultura a sua principal atividade profissional. Mas o começo dessa história foi um pouco diferente das de outros produtores.
“A caprinocultura entrou na vida da minha família pela porta da necessidade, pois meus filhos mais novos tiveram alergia ao leite de vaca e descobrimos que o de cabra era uma alternativa. E realmente foram ‘mágicos’ os benefícios trazidos. Nessa experiência, percebi que existia um grande potencial e um mercado pujante para o leite de cabra, com grandes oportunidades nos setores da genética e do melhoramento animal”, conta Vicente, que investiu na área de genética leiteira, se tornando, após alguns anos de trabalho, um dos principais nomes na caprinocultura do Brasil, inclusive exportando a genética de seu rebanho.
Em 2018, Vicente viu uma oportunidade para a aquisição de um laticínio na cidade de Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba. A compra da propriedade e da agroindústria coincidiu com o término da faculdade de gastronomia do filho Mateus Maldanis Ribeiro, que até então acompanhava a atividade do pai, como observador.
“Quando terminei o meu curso, meu pai adquiriu o laticínio, então foi a oportunidade para começarmos a trabalhar juntos. Passei a gerenciar o empreendimento e meu pai continuou como responsável pela criação e produção dos animais. Tem sido um arranjo excelente, com aprendizado constante e um amor que só aumenta pela atividade rural”, diz Mateus.
Para o pai, trabalhar com o filho tem sido motivo de felicidade. “A aquisição do laticínio mostrou o acerto com a atividade. Eu acredito muito na caprinocultura como negócio rentável e próspero no Brasil. A extração de leite, a transformação em queijo e derivados, além de um trabalho prazeroso, é realmente interessante e atrativo do ponto de vista econômico. E claro, quando a gente vê o filho envolvido, seguindo seus passos, levando o negócio adiante, trazendo novas ideias e visões da atividade, bem como buscando ocupar espaços que ainda não ocupamos, é uma sensação maravilhosa, que me deixa muito feliz”, salienta Vicente.
Família Simonetti
“Em nossa veia acho que corre suco de laranja e não sangue!”. Essa frase dita com um sorriso bem-humorado pelo citricultor Antonio Carlos Simonetti, 42, demonstra que a atividade agrícola é o elo entre a família, que já está na quarta geração de produtores rurais. ”
A história da minha família está ligada à citricultura. Meu bisavô começou a formar mudas de citros em pequenas áreas em Limeira, depois foi expandindo para outras cidades da região. Desde o início, que remonta a muitas décadas passadas, falo com orgulho que sou agricultor, pois hoje toda a minha família continua na atividade rural, com a missão de produzir com qualidade, colocando a marca Simonetti como sinônimo de bons frutos”, diz o produtor que trabalha nas propriedades que hoje estão concentradas em Aguaí (SP) e em Minas Gerais, onde a família cultiva, além de laranja e tangerina, também abacate.
Do pai, Luís Carlos, 66, e do avô Antônio (já falecido), o produtor quer passar para os filhos João Pedro, 15, e Letícia, 12, o mesmo amor pela terra e pela atividade. “Meus filhos estudam, mas nos finais de semana sempre me acompanham. No sítio e na empresa o trabalho é bem dividido, entre o meu pai, que se dedica à abertura, implantação dos pomares e parte estrutural da propriedade; eu, que cuido da comercialização; e minhas duas irmãs, Daniele e Fabiana, que cursaram Agronomia e cuidam da parte fitossanitária, das estufas e da área administrativa”, conta Antonio.
Com esse exemplo de trabalho em família,Antonio passa para o filho o valor e o amor à profissão de produtor rural. “Enfatizo sempre que devemos aprender com nossos pais, valorizando a experiência que vem de geração em geração, aperfeiçoando e agregando novas tecnologias ao modo de trabalho, com dedicação e amor, para que possamos ter produtividade e renda para nos manter na atividade, que é apaixonante, apesar de todos problemas”, fala Antonio Carlos.
Família Melo
Vindo de uma família de agricultores, Eliseu Aires de Melo, 60, diretor da CDRS Regional Avaré, revela que ao pensar em uma formação acadêmica, levou em consideração o histórico familiar, por isso a Agronomia foi a primeira escolha. “Cresci no sítio do meu pai, que era um pequeno agricultor. Quando minha família decidiu ir para a cidade, optei por cursar Engenharia Agronômica para continuar próximo do campo”, explica o engenheiro agrônomo, que exerce a profissão há 36 anos.
O ofício do pai despertou no filho, André Campos de Melo, 29, o interesse pela agricultura, que o fez decidir pela mesma formação. “Por meio do meu trabalho na CDRS, promovi dezenas de Dias de Campo, visitas técnicas e, muitas vezes, meu filho me acompanhava. Acho que isso estimulou a vontade dele em cursar Engenharia Agronômica”, fala Eliseu, com aquele sorriso de satisfação, de um pai que vê o filho seguindo seus passos.
André, que atualmente trabalha em uma usina de cana-de-açúcar, concorda: “Ver a dedicação e acompanhar o trabalho do meu pai de perto, me fez ver o quanto a agropecuária é uma atividade incrível e como os produtores rurais e os empreendedores do agro necessitam de apoio técnico. Então, a minha opção pela Agronomia foi coerente com a minha experiência de vida com o meu pai e a história do meu avô que foi produtor!”.