Diferença nos preços da soja divide cadeia produtiva

Com constantes altas nos portos nas últimas semanas, produtor reclama que os preços não estão sendo repassados para o interior

Nas últimas semanas, o Canal Rural recebeu diversos relatos de produtores reclamando que a cotação da soja nos portos não está sendo refletida nos preços das cooperativas e indústrias do interior. Reunimos o setor produtivo, o comprador da soja e um analista de mercado, para explicar os motivos de uma diferença grande de preços entre o praticado no porto para o do interior.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja do Paraná (Aprosoja-PR), José Sismeiro, aponta que a remuneração mais baixa é um problema grave. Segundo ele, os preços no interior estão sofrendo descontos altos, quase R$ 10,00/saca de diferença do porto. Para o presidente da Aprosoja-PR, falta transparência na formação de preços, sendo o produtor o maior prejudicado.

– Temos os custos do frete e o valor descontado de contribuição e fundo de capital, mas estamos vendo setores ganhar e o produtor não, isso precisa ser repensado. Todos nós temos que ganhar. O produtor corre todo o risco e é o que menos está ganhando. Precisamos saber o quanto custo para eles [tradings e cooperativas] e quanto sobra para ele – critica Sismeiro.

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O presidente da cooperativa Coopavel, Dilvo Grolli, justificou os gastos dos compradores, explicando que elas sofreram muito com os impactos do câmbio. Nos cálculos do dirigente, os custos gerais das empresas subiram, em média, 30%, o que pressiona a empresa na hora de ofertar preços melhores.

– Precisamos ter muita calma na hora de entender como é o preço final. Por exemplo, quando recebemos a soja, nosso gasto por saca é de R$ 3,50, para fazer a limpeza e secagem. Somado a isso, temos mais R$ 2,00 por saca para custos de armazenagem. Nossos gastos gerais e com seguros também sofreram com o câmbio, aumento de pelo menos 30% em relação ao ano passado. Então é preciso trocar informações e entender essa situação – argumenta.

Outro argumento dado é que a alta volatilidade do mercado não permite que os compradores consigam acompanhar a remuneração imediatamente.

O analista Vlamir Brandalizze explicou a formação de preços e orientou como o produtor deve agir neste momento de forte volatilidade. Segundo ele, o custo logístico e de armazenagem realmente tem contribuído para a diferença de preços. Em momento de capital restrito, as empresas também não podem abrir mão das margens.

– Os novos negócios estão escassos no momento, porque os portos estão lotados de embarques. Os novos embarques são mais para frente, então os compradores estão retraídos. Há insegurança no momento, não há possibilidade de correção de valores no curto prazo – comenta.

Brandalizze recomendou aos produtores buscarem alternativas para armazenagem nos próximos anos.

Confira o debate promovido no Mercado & Companhia:

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