O responsável da FAO alertou para o forte impacto do encarecimento dos alimentos e de energia no sustento da população mundial durante uma conferência no Parlamento Europeu, na qual especialistas de quatro continentes estudaram o papel da agricultura na reversão da atual crise alimentícia.
Na cúpula da FAO realizada há um mês em Roma, os 180 países participantes estimaram em 862 milhões o número de pessoas desnutridas no mundo.
Diouf reivindicou medidas urgentes, coordenadas entre os governos e as instituições, para poder resolver o problema da fome.
Os participantes da conferência enumeraram os fatores que propiciaram a crise, como o desequilíbrio entre a oferta e procura, o desenvolvimento econômico de países como China e Índia e a expansão dos biocombustíveis extraídos de produtos de consumo humano.
Para a FAO, a especulação e as restrições à exportação agravam a crise. Na Conferência, organizada pela presidência francesa da UE, especialistas concluíram que é preciso duplicar a produção de alimentos no mundo.
Tanto Diouf como o ministro de Agricultura da França, Michel Barnier, e o comissário europeu para o Desenvolvimento, o belga Louis Michel, ressaltaram que nos últimos anos as políticas têm “deixado a agricultura de lado” inclusive aquelas humanitárias, ao passo que é preciso colocar esta atividade em um primeiro plano.
Neste contexto, os participantes fizeram referência também à Política Agrícola Comum (PAC) da União Européia e ao papel dos subsídios agrícolas para garantir o abastecimento de alimentos, que vem sendo alvo de críticas dos países emergentes.
O secretário-geral de Agricultura espanhol, Josep Puxeu, defendeu que a PAC não é um problema, mas parte da solução à crise alimentícia mundial.
A discussão se produz no momento em que países da Organização Mundial do Comércio (OMC) estão convocados para uma conferência ministerial no dia 21, a fim de desbloquear a Rodada de Doha, iniciada em 2001 e cujo objetivo é diminuir as barreiras comerciais no mundo.
Nesse sentido, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, tinha afirmado que um acordo é “factível” e que pode dar margem tanto para as ajudas aos produtores europeus como para as políticas regionais no terceiro mundo.
No entanto, o ministro de agricultura francês apontou que não é o momento para potenciar um pacto na OMC que ponha em risco a agricultura européia.
Representantes de países da África insistiram na necessidade de facilitar o acesso ao mercado como solução para poder manter competitiva sua produção, segundo o comissário de Agricultura da comunidade econômica de Estados da África do Oeste, Ousseui Salifou.
O ministro da Agricultura do Marrocos, Aziz Akhannouch, disse que é necessário “acelerar a liberalização de intercâmbios agrícolas” e que a UE “não deve ver nisso uma nova concorrência”, mas uma oportunidade.
A comissária européia para a Agricultura, Mariann Fischer Boel, confirmou que irá propor na próxima semana, em Estrasburgo (França), que o dinheiro economizado da PAC seja destinado a ajudar aos agricultores dos países pobres. De acordo com ela, a iniciativa representaria entre 750 milhões e 1 bilhão de euros adicionais, dentro dos fundos que a UE destina ao desenvolvimento.