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Diretor da FAO afirma que alta mundial nos preços dos alimentos gerou 50 milhões de famintos

População que não tem acesso a comida equivale ao número de habitantes da Espanha ou de Argentina e Chile juntosA alta no preço dos alimentos fez com que o número de pessoas que passam fome no mundo aumentasse em 50 milhões em 2007, afirmou nesta quinta-feira, dia 3, o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Jacques Diouf. Esse número equivale a toda a população de um país como a Espanha ou à quantidade de habitantes de Argentina e Chile juntos.

O responsável da FAO alertou para o forte impacto do encarecimento dos alimentos e de energia no sustento da população mundial durante uma conferência no Parlamento Europeu, na qual especialistas de quatro continentes estudaram o papel da agricultura na reversão da atual crise alimentícia.

Na cúpula da FAO realizada há um mês em Roma, os 180 países participantes estimaram em 862 milhões o número de pessoas desnutridas no mundo.

Diouf reivindicou medidas urgentes, coordenadas entre os governos e as instituições, para poder resolver o problema da fome.

Os participantes da conferência enumeraram os fatores que propiciaram a crise, como o desequilíbrio entre a oferta e procura, o desenvolvimento econômico de países como China e Índia e a expansão dos biocombustíveis extraídos de produtos de consumo humano.

Para a FAO, a especulação e as restrições à exportação agravam a crise. Na Conferência, organizada pela presidência francesa da UE, especialistas concluíram que é preciso duplicar a produção de alimentos no mundo.

Tanto Diouf como o ministro de Agricultura da França, Michel Barnier, e o comissário europeu para o Desenvolvimento, o belga Louis Michel, ressaltaram que nos últimos anos as políticas têm “deixado a agricultura de lado” inclusive aquelas humanitárias, ao passo que é preciso colocar esta atividade em um primeiro plano.

Neste contexto, os participantes fizeram referência também à Política Agrícola Comum (PAC) da União Européia e ao papel dos subsídios agrícolas para garantir o abastecimento de alimentos, que vem sendo alvo de críticas dos países emergentes.

O secretário-geral de Agricultura espanhol, Josep Puxeu, defendeu que a PAC não é um problema, mas parte da solução à crise alimentícia mundial.

A discussão se produz no momento em que países da Organização Mundial do Comércio (OMC) estão convocados para uma conferência ministerial no dia 21, a fim de desbloquear a Rodada de Doha, iniciada em 2001 e cujo objetivo é diminuir as barreiras comerciais no mundo.

Nesse sentido, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, tinha afirmado que um acordo é “factível” e que pode dar margem tanto para as ajudas aos produtores europeus como para as políticas regionais no terceiro mundo.

No entanto, o ministro de agricultura francês apontou que não é o momento para potenciar um pacto na OMC que ponha em risco a agricultura européia.

Representantes de países da África insistiram na necessidade de facilitar o acesso ao mercado como solução para poder manter competitiva sua produção, segundo o comissário de Agricultura da comunidade econômica de Estados da África do Oeste, Ousseui Salifou.

O ministro da Agricultura do Marrocos, Aziz Akhannouch, disse que é necessário “acelerar a liberalização de intercâmbios agrícolas” e que a UE “não deve ver nisso uma nova concorrência”, mas uma oportunidade.

A comissária européia para a Agricultura, Mariann Fischer Boel, confirmou que irá propor na próxima semana, em Estrasburgo (França), que o dinheiro economizado da PAC seja destinado a ajudar aos agricultores dos países pobres. De acordo com ela, a iniciativa representaria entre 750 milhões e 1 bilhão de euros adicionais, dentro dos fundos que a UE destina ao desenvolvimento.

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