O Piauí tem a expectativa de crescer 10% na atual safra de soja, em comparação ao ano passado, um dos maiores incrementos estaduais desta temporada 2019/2020. Para chegar nesse resultado foi necessário muito trabalho dos produtores. O curioso é que praticamente todos esses agricultores do estado, vieram do Sul do país, trazendo consigo toda a experiência do campo. Mas qual é o segredo que trouxeram? O Projeto Soja Brasil desembarcou em Bom Jesus (PI), para conhecer a história de um desses desbravadores.
Se parar para pensar e olhar a situação atual de várias cidades do Piauí, que agora tem escolas, trabalho e oportunidades, fica difícil imaginar que antes da década de 1980, o estado era o que chamamos de “terra arrasada”, ou seja, pouco se tirava dali. O agronegócio tem o poder de levar esperança a lugares assim. Mas se engana quem pensa que foi fácil!
“Foi muito complicado. Só veio para cá quem tinha sangue no olho, pois o estado não tinha estradas, energia, estrutura na cidade, educação e saúde. Aqueles desbravadores do Paraná e Rio Grande do Sul tiveram muita coragem. Graças a Deus, muitos deles conseguiram ter sucesso e está todo mundo superando as dificuldades que o Piauí ainda tem”, afirma o presidente do Sindicato Rural de Bom Jesus, Cezar Marafon.
De nada vale uma introdução como essa sem uma boa história para ilustrar, certo? Pois foi em um lugar chamado Serra dos Quilombos, que a equipe do Projeto Soja Brasil encontrou uma dessas histórias de pioneirismo.
Onde tudo começou
Há 34 anos, o agricultor gaúcho Valtério Manganelli resolveu deixar a segurança de sua pequena propriedade em Santo Antônio das Missões (RS), para se aventurar abrindo novas áreas no Matopiba (que na época nem era uma fronteira agrícola e não tinha esse codinome).
A ideia, como todos os desbravadores, era justamente tentar melhorar de vida e trazer aos seus familiares um futuro mais próspero. E lá foram ele, a esposa e os quatro filhos trilhar uma nova vida. Mas a prosperidade não veio logo que chegaram e tiveram que morar durante algum tempo em barracos de lona.
Além da dificuldade de moradia, uma das principais dificuldades que o Sr Valtério se lembra, ao chegar ao Piauí, foi adaptar a região para receber uma fazenda. E estamos falando desde abrir terra, até pavimentar estradas.
“Tudo foi muito difícil. Desde fazer os financiamentos, abrir estradas, até preparar uma lavoura onde não havia nada. Era campina, cerrado, essas coisas”, relembra.
A recompensa
Hoje, a fazenda de Sr Valtério tem 12 mil hectares, 55 funcionários e uma herança garantida aos seus sucessores, algo que com certeza não teria conseguido se tivesse optado pela segurança de permanecer no Rio Grande do Sul.
No auge dos seus 82 anos, o Sr Valtério já não precisa mais se preocupar com tantas coisas, já que a família cresceu e agora os 12 integrantes, entre filhos, netos, noras e genros ajudam a cuidar de tudo.
Quando indagado se trabalha na fazenda por que foi obrigado, o filho Rafael Maganelli, formado em engenharia agronômica, nem titubeou para responder. “Eu sempre gostei disso. Afinal, desde pequeno fui criado dentro da lavoura, e peguei gosto desde cedo”, diz.
Já o filho caçula do Sr Valtério, virou administrador da fazenda. Nelson Manganelli, era adolescente na época da mudança e se emociona ao lembrar da estrada percorrida com superação, união e, principalmente, amor à agricultura.
“Eu acho que essa emoção é agradecimento, sabe. A palavra seria essa. Tanto pela luta dele, como da minha mãe. E por ter passado tudo que sabemos hoje, todo o ensinamento. Foi tudo muito difícil”, comenta.
E a soja, onde entra nesta história? Pois sem ela nada disso teria acontecido, garante o Sr Valtério, já que foi a ferramenta que permitiu a família Manganelli conquistar tudo que conseguiu. “A soja é o troféu dessa conquista”, comemora o Sr Valtério.