A safra 2019/2020 de soja será muito diferente da anterior e está cercada de complicações do ponto de vista do produtor rural, alertou o analista da Safras & Mercado Paulo Molinari. Ele participou do 1º Fórum Soja Brasil desta temporada, em Maracaju (MS), cujo tema foi “Perspectivas a próxima safra, mercado e novas rotas de exportação”, que aconteceu nesta sexta, dia 26.
Segundo ele, a temporada passada começou com o câmbio em baixa, o que favoreceu os custos. “Depois, a China brigou com o [Donald] Trump e os prêmios dispararam. Também tivemos a eleição mais difícil de nossas vidas aqui no Brasil e o prêmio também precificou isso”, relembra. Este ano, no entanto, o especialista afirma que os gastos do agricultor estão maiores por causa do dólar.
Sobre a safra americana de grãos, que enfrentou problemas climáticos e registrou os maiores índices de atraso de plantio de sua história, Molinari diz que o problema maior ficou com o milho. “A soja foi plantada mais dentro da janela ideal, em uma condição menor pior, e se desenvolve de forma regular, ainda que atrasada”, diz.
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O analista diz que todos os cenários de preços imagináveis são possíveis, já que o mercado aguarda o relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que será divulgado em agosto e trará revisões sobre a área plantada no país. “As corretoras americanas estão perdidas. Todos aguardam as coisas acontecerem”, diz.
Molinari diz que a tendência para as cotações da oleaginosa são, infelizmente, baixistas. “Devido ao tamanho dos estoques dos Estados Unidos e à possibilidade da guerra comercial com a China chegar ao fim”, declara.
Ele diz que os efeitos da disputa entre americanos e asiáticos já vêm perdendo força. “As estatais chinesas já podiam comprar soja sem tarifas. Agora, as maiores esmagadoras americanas também receberam permissão para adquirir sem a tarifa de 25%. A janela, praticamente, está aberta de novo”, conta.
Questionado sobre o motivo do enfraquecimento da guerra comercial, Molinari diz que é necessário analisar o cenário americano como um todo. “A soja representa pouco nos US$ 500 bilhões envolvidos nessa disputa, mas afeta o núcleo eleitoral do Trump, que está no Meio-Oeste [considerada a principal área produtora de grãos do país]. E ano que vem há eleições nos Estados Unidos”.
O conflito ainda deve durar um tempo, mas que enquanto as discussões se focam em outros produtos, a soja vai se libertando, segundo o analista. “O produtor vai perder o benefício do prêmio. Ano passado, chegamos a 270 pontos (US$ 2,70) sobre Chicago. Se a bolsa americana estava a US$ 9 por bushel, vendíamos a US$ 11,70. Em maio, quando os dois países decidiram que não se acertariam mais, estava em 110 pontos. Hoje, já estamos em 60/70 pontos novamente”, diz.