Dois candidatos disputam a sucessão de Cristina Kirchner neste domingo; novo presidente deverá aumentar a competitividade da soja do nosso vizinho
Roberta Silveira | São Paulo (SP)
Neste domingo, dia 22, os argentinos vão escolher o futuro presidente, que vai substituir Cristina Kirchner no poder. A expectativa é de que o vencedor promova mudanças na economia do país. Com a provável desvalorização cambial após a eleição, a Argentina pode aproveitar o momento para vender seus estoques de soja. A tendência é que o nosso vizinho fique mais competitivo no mercado internacional.
Vale lembrar que a Argentina é o terceiro maior produtor de soja do mundo. A safra 2015/2016 é estimada em 57 milhões de toneladas. Os argentinos são os maiores exportadores de farelo e óleo feitos a partir do grão. O país também o terceiro maior exportador e tem o maior estoque mundial do produto.
• Excesso de soja no mercado deve acabar na próxima safra
Parte deste grande estoque de soja é resultado da política de retenciones, que é praticada desde 2002. A produção argentina acaba retira porque a alta carga tributária inviabiliza a exportação, tirando a lucratividade dos produtores. Dependendo do resultado da eleição deste fim de semana na Argentina, isto pode mudar.
Dois candidatos disputam o segundo turno. Daniel Scioli é o governador da província de Buenos Aires, ele é apoiado pela presidente Cristina Kirchner. O nome da oposição é Maurício Macri, prefeito de Buenos Aires e que está à frente nas pesquisas eleitorais.
– Ambos vão mudar um pouco o jogo. Aquela agenda política mais intervencionista da Cristina Kirchner, isso já ficou para trás. Neste processo, os dois vão fazer uma política um pouco mais liberal. Uma dessas mudanças que o agronegócio brasileiro precisa ficar atento é de uma desvalorização ainda mais intensa do peso argentino – profeta o professor da GV Agro Felipe Seregati.
A partir daí, a Argentina pode participar mais do mercado de soja.
– O que o produtor argentino tem feito, sabendo que provavelmente este câmbio vai desvalorizar ainda mais, ele está segurando a soja, seja em grãos ou farelo, para exportar apenas quando esta desvalorização acontecer. Provavelmente, após a eleição e o ajuste cambial, vamos ter um volume maior de soja da argentina entrando no mercado mundial. Pode não bater fortemente na cotação, mas não vai passar despercebido – reforça Seregati.
Se o candidato da oposição vencer a presidência da Argentina, a expectativa é que ele promova maiores mudanças.
– Uma das plataformas dele, que inclusive foi anunciada no mercado, é que ele aumentaria substancialmente a exportação de soja da Argentina, através da desoneração e da desregulamentação do mercado. Eles vão se tornar mais competitivos. Na verdade, eles vão se aproximar da condição que o produtor brasileiro tem hoje de operar – explica o sócio-diretor da Agrosecurity, Fernando Pimentel.
Apesar das eleições na Argentina mexerem com o mercado especulativo, especialistas ouvidos acreditam que as mudanças na política do país vizinho devem acontecer a médio e longo prazo. O que somado aos nossos problemas internos, pode tirar mercado da soja brasileira no futuro.
– O que é preocupante é que existe já uma proposta de alguns estados, como Goiás, de onerarem a soja, na mesma linha que acontece com o Mato Grosso do Sul, que taxam as exportações que excederem 50% do volume produzido no estado. Isto seria muito delicado. No mesmo momento que você eleva a competitividade do produtor argentino, você tira a competitividade de alguns estados. Isso é muito ruim e pode levar para a Argentina uma maior participação no mercado de soja em grãos, inclusive – analisa Pimentel.
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