Eleições legislativas dos EUA podem interferir na relação com o Brasil, dizem especialistas

Deve ficar mais difícil para o presidente norte-americano Barack Obama governarEspecialistas em relações internacionais avaliam que ainda é cedo para afirmar como o resultado das eleições legislativas dos Estados Unidos pode interferir na relação com o Brasil. A oposição conquistou a maioria na Câmara. No Senado, ainda é minoria, mas aumentou participação. Há um consenso de que vai ficar mais difícil para o presidente norte-americano Barack Obama governar. Porém, para os analistas, a preocupação maior, por enquanto, é com a lenta recuperação da economia do país. É uma situ

Os números explicam por que o Brasil deve ficar atento a qualquer mudança na política ou na economia dos Estados Unidos. Trata-se de um mercado de US$ 35 bilhões, somando importações e exportações. Esse tamanho era ainda maior antes da crise. No ano passado, as vendas de produtos brasileiros aos EUA caíram 43% em relação a 2008. É um mercado valioso, mas de acesso difícil. No agronegócio, os subsídios à produção e as barreiras comerciais são comuns. Situações que, a partir de janeiro, vão ser avaliadas pelo novo Congresso, mais ocupado por deputados e senadores da oposição, os republicanos, e dispostos a dificultar para o governo do democrata Barack Obama.

? Vai ser muito difícil avançar minimamente a agenda que o Obama se colocou, como a reforma da lei de energia, meio ambiente, imigração. Isso tudo ele não vai conseguir fazer ? diz o ex-embaixador do Brasil nos EUA, Rubens Barbosa.

O presidente norte-americano reconhece que o governo falhou e que os americanos estão impacientes com a lenta recuperação da economia. A taxa de desemprego ainda é uma das mais altas da história, e o governo não para de gastar na tentativa de socorrer o país. O cenário que acabou refletindo nas urnas, com o avanço dos republicanos. O partido é, tradicionalmente, mais aberto ao comércio exterior que os democratas. O problema é que desde que Barack Obama assumiu a presidência, eles mudaram o perfil.

? Diminuir o gasto público é um dos primeiros passos ? diz o embaixador.

Não importa se o Congresso americano vai ser mais ou menos protecionista. É aí que pode haver reflexo positivo para o Brasil, avalia o presidente da União da Indústria da Cana-de-Açúcar, Marcos Jank. Ele acredita que poderia haver, por exemplo, um corte de subsídios aos produtores de milho para fabricação de etanol, além da tarifa cobrada pela entrada do combustível brasileiro no mercado americano, o que, segundo ele, pode acontecer até mesmo antes do novo Congresso tomar posse.

? Pela primeira vez em 31 de dezembro desse ano, existe uma chance concreta e real de o subsídio não ser reaprovado, porque ele custaria ao tesouro americano mais de US$ 6 bilhões, e os grupos que são contra o subsídio, aqueles que estão preocupados com os gastos públicos, têm feito demonstrações que não faz muito sentido dar esse subsídio ? diz Jank.

O especialista em Relações Internacionais Gunter Rudzit discorda.

? Mesmo os republicanos sendo a favor de livre mercado, muitos são de condados que são ligados ao agribusiness. Como eles vão explicar para seus eleitores que numa situação de crise econômica e desemprego muito alto, eles estão cortando subsídios? ? indaga Rudzit.

O analista Marcus Peçanha lembra que há mais um problema: a forte injeção de dólares na economia, feita pelo governo, prejudica a taxa de câmbio e deve continuar influenciando de forma negativa o agronegócio brasileiro.

? Essa taxa de câmbio vai prejudicar qualquer setor exportador. E temos juros mais altos. Para setores que competem com o agronegócio americano, isso é um problema mais grave ainda ? conclui Peçanha.