Segundo estudo da Embrapa Soja, em temporadas como a atual, com déficit hídrico em boa parte das regiões produtoras, o método não é recomendado
Daniel Popov, de São Paulo
Um estudo aprofundado realizado pela Embrapa Soja testou alguns métodos de semeadura da oleaginosa, entre elas, o plantio em fileiras duplas. Este modo, muito usado nos Estados Unidos, consiste em duas fileiras com espaçamento mais curto que o normal entre elas, e uma distância maior para o outro conjunto de fileiras, como na imagem que ilustra esta notícia. Entretanto o método perde produtividade quando em anos com muitos déficits hídricos, aponta a entidade.
No Brasil, a técnica de fileiras duplas tem sido usada em algumas culturas, como a cana-de-açúcar, o amendoim e a mandioca, visando, principalmente, maior rendimento da operação de colheita. Nos EUA, há produtores de milho e soja que utilizam esse espaçamento, com o objetivo de aumentar a produtividade e garantir maior facilidade nos tratos culturais.
Na cultura da soja, teoricamente, as fileiras duplas proporcionam maior penetração de luz e produtos aplicados por meio de pulverização entre os pares de fileira, o que poderia melhorar o controle de doenças e insetos-praga, e também gerar ambiente menos favorável às doenças. Além disso, poderia estimular a ramificação no sentido do maior espaçamento, aumentando a produção por planta via aumento do número de vagens nos ramos.
A Embrapa, juntamente com instituições parceiras, testou essa técnica nas últimas cinco safras, em várias regiões, cultivares (com diferentes arquiteturas de plantas), épocas de semeadura, população de plantas e níveis de fertilidade.
Foram avaliadas fileiras duplas com espaçamentos de 20 centímetros entre fileiras dentro da fileira dupla e 45 centímetros entre as fileiras duplas. Há ainda quem prefira uma distância maior entre as fileiras duplas, de 80 centímetros.
Resultado dos testes
Em geral, a produtividade de grãos com o uso de fileiras duplas foi similar ao espaçamento tradicional (45 a 50 cm). “Este espaçamento maior propicia, em tese, maior incidência de luz e facilidade de entrada dos agrotóxicos nas plantas. Mas isso não inibiu o surgimento de doenças, por exemplo, o que foi uma decepção”, explica Alvadi Balbinot, pesquisador da Embrapa. “Todos achávamos que os resultados seriam ainda melhores. Por isso vamos seguir estudando esta técnica, para ver os resultados em longo prazo.”
Em situações de déficit hídrico, observou-se menor produtividade com uso de fileiras duplas, possivelmente em função da maior perda de água via evaporação. Constatou-se aumento da penetração de produtos aplicados via pulverização entre os pares de fileiras, porém a penetração entre as fileiras que formam o par reduz expressivamente, em função da maior proximidade.
Os efeitos dessa técnica sobre a incidência de doenças, como mofo-branco e ferrugem asiática, e insetos-praga precisam ser mais bem investigados. Adicionalmente, uma desvantagem relevante da prática é a infestação de plantas daninhas entre os pares de fileiras.