A palma é uma das principais espécies forrageiras em uso nos sistemas de criação pecuária do sertão nordestino. Em áreas tradicionais de cultivo dos Estados da Paraíba, de Pernambuco e do Ceará, o ataque da cochonilha acontece de forma tão intensa que só tem restado aos agricultores a erradicação total dos plantios. A perda dos palmais retira dos agricultores a forrageira que mais resiste à seca, afirma o engenheiro agrônomo Carlos Gava, pesquisador da Embrapa Semi-Árido.
Uma consequência grave do ataque dessa praga é que, na ausência de um controle eficiente ou com um custo competitivo, a eliminação da forrageira tem obrigado os produtores a se desfazerem dos rebanhos ou a aumentar o uso da vegetação nativa. Como resultado, tem se observado a degradação da caatinga e levado famílias de agricultores a migrarem das regiões afetadas, releva o pesquisador.
Controle biológico
No Laboratório de Entomologia da Embrapa Semi-Árido há bons indicativos da eficiência de um inseto de origem australiana (Cryptolaemus montrouzieri) como predador da cochonilha-do-carmim. Nos testes experimentais, um adulto dessa espécie de joaninha consegue consumir, por dia, entre 300 e 350 ninfas da praga. Outro inseto, Zagreus bimaculosus, nativo do semiárido, está sendo avaliado com o mesmo objetivo. Para Carlos Gava, é uma tecnologia promissora, ainda mais que a técnica para a multiplicação dos predadores é simples e pode ser implementada nas propriedades rurais sem a necessidade de qualquer equipamento especial.
Outra linha de estudo em desenvolvimento no Laboratório de Controle Biológico avalia a eficiência de fungos chamados de entomopatogênicos, como a Beauveria bassiana e o Metarhizium anisopliae, que, pulverizados na cultura, infectam o inseto e causam a sua morte. Nos testes realizados pelos pesquisadores da Embrapa Semi-Árido em áreas de palma infestadas de cochonilha-do-carmim, a aplicação desses microorganismos reduziu a população da praga em até 90%. A quantidade que sobrevive é tão pequena que a capacidade de causar dano à cultura é inexpressiva.
O passo seguinte da pesquisa é definir fórmulas para o processamento de bioinseticidas com base nesses fungos. Carlos Gava explica que este produto precisa passar pelas análises de resistência dos microorganismos às condições climáticas da região após serem pulverizadas no campo. Sem garantias de que vão se manter vivos, após serem pulverizados nas plantas de palma, esses produtos biológicos terão poucas chances no manejo da praga e menos ainda de chegar ao mercado. Otimista com os resultados já obtidos, ele prevê, para breve, a apresentação de um produto de baixo custo e muito eficaz no controle dessa cochonilha.
O IPA e a Emepa, por sua vez, testam clones de quatro genótipos de palma forrageira resistente à praga: a Doce ou Miuda ? que tem o nome científico de Nopalea cochelinifera, a Mão-de-Moça (Nopalea sp.), IPA Sertânea e PALMEPA1. Essas variedades já são cultivadas em diferentes regiões produtoras. Duas novas cultivares, mais rústicas e melhor adaptadas ao sertão, estão em fase final de avaliação quanto ao desempenho agronômico e de potencial forrageiro, de acordo com Carlos Gava.
No Laboratório de Biotecnologia da Embrapa Semi-Árido, os pesquisadores fazem testes para produzir em larga escala, por meio de cultivo em tubos de ensaio, mudas dessas variedades a partir de fragmentos de raquetes. Estes testes vão servir de base para as instituições estabelecerem programas de distribuição gratuita das mudas para os agricultores. A capacidade de multiplicar grandes quantidades de materiais resistentes vai acelerar a recuperação dos palmais da região, afirma.
Introduzida no Nordeste em fins do século XIX, a palma forrageira tem sido a principal alternativa para a alimentação animal nos períodos de estiagens. A rusticidade, características nutricionais e aceitação pelos animais tornaram a palma na principal alternativa para as cadeias produtivas de carne e leite de caprinos, ovinos e bovinos.