>> Reportagem faz parte de série especial sobre mudanças climáticas
– Nós temos esta cultura de café plantada de forma convencional, como a agricultura faz na região, e anéis dentro dela, onde aplicamos o CO2, aumentando a concentração deste gás no ar. Isto simula a atmosfera futura, por volta de 2100, em um cenário mais otimista. Então nós vamos observar o que vai crescer, a fertilidade do solo, o desenvolvimento da planta, a produção e a ocorrência de pragas e doenças – diz.
Os pesquisadores estimam poder avaliar em um ano o comportamento de pragas, como a ferrugem do café e o bicho mineiro, quando submetidas a uma grande quantidade de gás carbônico, conforme Raquel.
– Elas podem aumentar ou diminuir, porque com este maior crescimento das plantas, nós podemos ter um ambiente mais úmido, que pode favorecer alguns fungos ou organismos que causem doenças. Porém, a planta crescendo mais, pode se tornar menos sensível ao ataque destes fungos e outra pragas – afirma.
O coordenador da Embrapa Meio Ambiente de Jaguariúna, Celso Manzatto, aponta que o Brasil tem levado ao pé da letra o objetivo de antecipar os fatos.
– Lógico que estamos falando de cenários distantes, 2030/2040, mas imaginando que tenhamos que desenvolver novas variedades de café, de soja, milho e que isto demora em média 10, 15 anos para desenvolver, temos que antecipar estas visões de futuro, para que o agricultor não sinta tanto o impacto das mudanças climáticas. Principalmente em um país agrícola como o nosso, com a importância na produção de alimentos. Temos que olhar pela sustentabilidade da nossa agropecuária – opina.
O pesquisador norte-americano Donald Ort coordena uma pesquisa semelhante nos Estados Unidos sobre os efeitos do CO2 na soja. Ele viajou a Jaguariúna para conhecer o experimento brasileiro, que é o primeiro deste tipo desenvolvido nos trópicos. Segundo ele, o estudo realizado no Brasil é fundamental.
O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Gilvan Sampaio, revela que o órgão também realiza estudos prevendo cenários de um futuro distante, por meio da alta tecnologia.
– Consideramos todo o sistema terrestre, tudo que a gente pode olhar, nuvens, atmosfera, fenômenos, plantas, solo. Tudo isso nós temos representado dentro de um computador, além de suas interações, através de equações matemáticas, que calculam projeções até o final do século – explana.
Conforme Sampaio, a máquina custou R$ 33 milhões e é a maior do Hemisfério Sul. O supercomputador ainda colocou o Brasil entre as grandes potências mundiais que estudam estes fenômenos. Pela primeira vez, pesquisadores nacionais participarão do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).
– O IPCC produz um relatório a cada quatro ou cinco anos e já produziu quatro relatórios. Graças à aquisição desta máquina, vamos participar do próximo relatório. Já estamos fazendo simulações que servirão ao estudo que será divulgado em 2013, 2014 – antecipa.
A aquisição de um novo modelo da máquina já está em andamento, para ser efetivamente concretizada em quatro anos.
– A tecnologia evolui muito rapidamente e nós temos que estar sempre atrás do melhor, porque o melhor significa fazermos projeções mais apuradas, de longo prazo. O objetivo é um melhor planejamento de diversos setores da economia brasileira, além de tentar evitar mortes associadas a desastres naturais, perdas significativas na agricultura – pontua.