Na outra ponta, o rendimento dos anos de ciclo alto subiu de 21 para 23 sacas entre 2002/2003 e 2010/2011. No último ciclo, de baixa, a safra foi a maior desde 1999/2000, com 43,15 milhões de sacas, queda de 10,3% ante a safra passada, de acordo com a estatal.
Embora não permitam dizer que o ciclo bienal do café está em xeque, os números mostram uma forte aproximação entre os anos de alta e baixa produção. Isso, afirmam pesquisadores, é resultado direto do emprego mais generalizado de tecnologia, em especial por pequenos e médios produtores.
? A planta continua tendo um ciclo bienal. Mas quando você adensa, irriga, maneja a fertilidade, consegue mitigar essa bienalidade. A produtividade oscila muito mais próxima da média. Não chega a acabar, mas reduz a amplitude ? afirma o pesquisador Celso Luis Vegro, do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura de São Paulo.
Entre os fatores que têm ajudado o cafeicultor a tirar mais grãos das lavouras ano a ano Aymbiré Francisco Almeida da Fonseca, pesquisador da Embrapa Café/Incaper, destaca a renovação das lavouras.
? Os novos plantios têm sido feitos em bases tecnológicas mais avançadas, com variedades mais produtivas e adaptadas a cada região. Os cafezais do cerrado da Bahia têm produtividades altíssimas porque os cultivos são novos, irrigados. Ali, o rendimento é de cerca do dobro da média nacional ? lembra.
No Espírito Santo, onde predomina a variedade robusta, a média de plantas por hectare passou de 1,5 mil para três mil nos últimos 18 anos; no Paraná, chega a 15 mil e 20 mil plantas em algumas áreas.
? O adensamento reduz os riscos de geada, economiza água e conserva o solo ? afirma Fonseca.
E os bons preços pagos pelo grão têm gerado uma renovação mais intensa em Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo.
? Na região de Franca (SP), 25 milhões de mudas estão sendo produzidas ? conta Vegro, do IEA.
No caso da irrigação, seu emprego tem avançado no país, o que contribui para elevar a produtividade e reduzir a diferença que caracteriza a bienalidade.
? A irrigação é relativamente nova no Brasil, mas no Espírito Santo, por exemplo, já abrange um terço das áreas ? diz Fonseca, da Embrapa Café/Incaper.
Segundo ele, a formação de algumas áreas novas de cafeicultura, como ocorre em Goiás, só se faz com irrigação. Não há dados sobre a extensão das áreas com a tecnologia, contudo. Fonseca as estima em cerca de 20%. Já Vegro calcula esse porcentual em 10%. Mas ele vê avanços.
? Por ano, são agregados 12 mil hectares de irrigação no Brasil ? diz Vegro.
O avanço em áreas como o sul de Minas Gerais, que responde por 25% da produção do país, também se dá pela necessidade de mitigar os efeitos de anos de estiagens muito intensas. Ali, diz o pesquisador da Embrapa, chove bem, mas às vezes em épocas erradas.
De acordo com Fonseca, o alto custo da irrigação na fase de implantação do sistema – de R$ 3 mil até R$ 7 mil por hectare – é compensado pelo aumento de produtividade.
? O custo de utilização é pequeno, mesmo considerando o gasto com energia ? fala.
Segundo ele, a diferença de rendimento dos cafezais irrigados chega a ser o dobro.
?Isso também contribui para tornar menos intensas as variações de produção de um ano para outro.
O panorama tecnológico da cafeicultura nacional tem melhorado, mas ainda há obstáculos, diz Aymbiré Fonseca, da Embrapa Café/Incaper. O maior deles, diz, é justamente a disseminação de conhecimento entre os produtores.
? A transferência de tecnologia é o grande salto que temos que dar no curto prazo ? diz.
Para Celso Vegro, do IEA, “o conhecimento agronômico é, hoje, o maior capital na cafeicultura. Mais que o dinheiro.” Ambos acreditam que novos saltos de produtividade virão no futuro, mas de forma gradual.