Empresários do Brasil e da Argentina ficam apreensivos sobre decisão de embargo

Medida anunciada pelo ministro argentino Guilhermo Moreno pode entrar em vigor nesta terçaExportadores e importadores brasileiros e argentinos aguardam para esta terça, dia 1º, a definição do governo de Cristina Kirchner sobre a polêmica iniciativa da Secretaria do Comércio Interior de estabelecer barreiras comerciais a produtos industrializados não só do Brasil, mas também de países europeus.

No mês passado, o secretário Guilhermo Moreno reuniu-se com diretores de supermercados e determinou que a partir desta terça produtos enlatados com similares na Argentina sejam proibidos de entrar no país, iniciativa que teria o objetivo de proteger a indústria local. O problema é que a determinação do secretário não consta em qualquer documento de governo, tratando-se apenas de uma ordem verbal repassada a funcionários dos vários escalões da secretaria.

Mesmo sem uma definição oficial, a ordem de Moreno acabou provocando a interrupção do trânsito de caminhões que transportavam produtos industrializados brasileiros entre a cidade gaúcha de Uruguaiana e a argentina de Paso de los Libres. Os caminhões foram liberados três dias depois, mas, a partir do incidente na fronteira, a provável entrada em vigor de barreiras comerciais começou a gerar pronunciamentos no alto escalão do governo argentino.

No dia 22 de maio, o ministro da Economia, Amado Boudou, afirmou que não existiam barreiras para a entrada de qualquer tipo de alimento no país. O anúncio de Boudou não foi suficiente para que a imprensa argentina esgotasse o assunto. Informações sobre o cancelamento de pedidos feitos por importadores de produtos brasileiros a partir da ordem verbal do secretário Moreno começaram a circular em Buenos Aires.

Na sequência, os ministros do Interior, Florencio Randazzo, e da Indústria, Debora Giorgi, também se pronunciaram publicamente, confirmando a inexistência de barreiras comerciais a produtos alimentícios brasileiros e europeus.
No Brasil, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, afirmou que o governo estava atento ao futuro do comércio com a Argentina, enquanto o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, disse que se as barreiras argentinas entrassem em vigor, o Brasil retaliaria.

Na semana passada, depois de encontrar-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Rio de Janeiro, durante o Fórum da Aliança de Civilizações, a presidente Cristina Kirchner pronunciou-se pela primeira vez sobre o assunto e foi taxativa:

? Não haverá restrições às importações brasileiras ? disse.

Cristina afirmou, na ocasião, que em vez de criar problemas para o comércio com o Brasil, a Argentina quer equilibrar a relação bilateral, uma vez que, atualmente, a pauta comercial é favorável aos empresários brasileiros.

? O crescimento econômico dos dois países não é incompatível, mas complementar ? afirmou a presidente, que ressaltou:

? O presidente Lula sabe que no mundo de hoje é preciso considerar os países não como clientes, mas como sócios e é esse o caso entre o Brasil e a Argentina.

De acordo com dados oficiais do governo argentino, divulgados recentemente pela ministra da Indústria, Debora Giorgi, o fluxo comercial entre os dois países aumentou 48% no primeiro quadrimestre de 2010 em relação ao mesmo período do ano passado. O saldo comercial registrou déficit de US$ 859 milhões para a Argentina. Entre janeiro e abril deste ano, as exportações para o Brasil totalizaram US$ 4,096 bilhões, o que significa um crescimento de 39% em relação ao ano passado. As importações chegaram a US$ 4,955 bilhões, 57% a mais na comparação com 2009.